Título: Em busca da reeleição, Lula perde equipe e aliados
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 08/08/2005, País, p. A2

A crise política e os escândalos de corrupção atiraram de vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos palanques do interior. Em clima de campanha, Lula inaugura obras, faz discursos populares - ou populistas -, emociona-se ao lembrar da mãe. ''Vocês vão ter que me engolir'' , ameaçou, ao se mostrar decidido a concorrer à reeleição. Lula só parece esquecer que sua atual coligação está sob suspeição ética, que seus aliados precisam se defender das denúncias de corrupção e que boa parte do seu staff de campanha, que o tornou vitorioso em 2002, foi afastado do governo. Neste momento, ninguém sabe dizer com quem o PT faria coligação em 2006. - Quem disser algo, neste momento, pode apostar: está mentindo. Eu, por exemplo, não faço a mais pálida idéia - afirmou a cientista política Lúcia Hipólito.

Para ela, não seria exagero pensar na possibilidade de uma chapa puro-sangue, PT-PT. Mas também seria prematuro pensar que essa seria a alternativa escolhida. Lúcia acredita que as alianças eleitorais talvez não sejam o principal empecilho. Avalia que, neste momento, o PT não dispõe de uma infra-estrutura para uma campanha pesada como a presidencial.

- Quem vai financiar a campanha? Quem vai levar o candidato Lula aos grotões? Quem vai pensar nas estratégias políticas? Pessoas como José Dirceu, Luiz Gushiken e Delúbio Soares, fundamentais em 2002, estão fora do grupo político do presidente - lembra.

É possível que Lula consiga ser eleito nesta chapa puro-sangue, lastreado pela credibilidade que ainda consegue manter junto ao eleitorado, principalmente das classes C, D e E. Mas teria dificuldades em governar.

- Você não governa com o eleitor, governa com as instituições, com o Congresso, com a opinião pública. Neste cenário, cresce em importância o namoro com o PMDB - aponta Lúcia Hopólito.

Para o cientista político da Universidade de Brasília David Fleischer, se a parceria PMDB-PT saísse do papel e se concretizasse, os problemas petistas estariam resolvidos. Tanto ele quanto Lúcia acreditam que os partidos de esquerda, aliados naturais do PT, poderiam até apoiar Lula em 2006. Mas a entrada do PMDB na coligação daria um upgrade político considerável.

- O PT considerou um erro tático lamentável, lá atrás, quando não trouxe o PMDB para o governo desde a sua gestação. Demorou, só incorporou o partido em 2004 - lembra Fleischer.

O cientista político adverte, contudo, que é preciso saber como o PMDB virá para esta aliança, já que existe um grupo no partido que não apenas é contra uma parceria com Lula, mas diverge radicalmente radicalmente da estratégia até agora posta em prática pelo Planalto. Lúcia Hipólito acredita que essa dicotomia não é tão complexa.

- A ala peemedebista que não gosta do Planalto vai se preocupar em aumentar o número de governadores, em eleger maiores bancadas no Congresso. O radicalismo oposicionista deles não suplanta a oposição de pefelistas e tucanos - disse.

O cientista político José Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP), não acredita que o PMDB vá perder a grande oportunidade de lançar nome próprio nas eleições presidenciais de 2006.

- O candidato Lula estará enfraquecido. Existem alas do PMDB que pregam há anos que o partido precisa lançar candidato próprio. Vão pressionar, alegando que este é o momento - afirmou Luciano.

O cientista político do IBEP vê com preocupação a possibilidade de uma vitória de Lula em 2006. Para ele, as fragilidades de um segundo mandato petista seriam ainda maiores sem uma bancada governista no Congresso.

- Se o governo já erra com os aliados atuais, imagine sem uma base política em 2006? - ponderou José Luciano.