Título: Netanyahu sai do governo de Sharon
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Fonte: Jornal do Brasil, 08/08/2005, Internacional, p. A8

Benjamin Netanyahu renunciou ontem ao cargo de ministro das Finanças de Israel, em protesto contra o plano de retirada israelense da Faixa de Gaza. E se despediu do governo fazendo um duro alerta.

- Todas as minhas advertências tornam-se realidade. Gaza se transformará em uma base do terrorismo islâmico e todos podem ver isso - disse. - Mahmoud Abbas (presidente da Autoridade Nacional Palestina) diz que essa é apenas a primeira fase, e que depois chegarão a Jerusalém. Enquanto isso, as demais organizações terroristas afirmam que é o começo da libertação de toda Palestina.

O ex-premier reconheceu que sua renúncia não vai alterar a retirada de 21 colônias em Gaza. Pouco antes da renúncia, o governo de Ariel Sharon havia conseguido no Knesset a aprovação final do polêmico plano, que será colocado em marcha a partir do dia 17.

- Há uma maioria no governo e no Parlamento que contradiz os valores pelos quais os eleitores nos elegeram - criticou o rival de Sharon.

Na carta de renúncia, enviada ao premier, Netanyahu destacou que a retirada ''é um ato irresponsável que divide o povo e contradiz os compromissos do nosso partido, o Likud''.

''Chegou a hora da verdade. Não posso me vincular a esta iniciativa, que põe em risco a segurança do Estado'', acrescentou, citando o fato de que os palestinos vão dispor de um porto e um aeroporto na Faixa de Gaza e o controle da fronteira com o Egito.

Para o posto de Netanyahu foi nomeado interinamente outro membro do Likud, Ehud Olmert, até agora ministro de Indústria e Comércio.

Considerado durante muito tempo o enfant terrible da direita nacionalista israelense, Netanyahu esperou até o último momento para dar um golpe na aplicação do plano de retirada de Gaza. Se outros ministros seguissem seu exemplo, o projeto poderia ficar por um fio. Nada indica que isto vá ocorrer, mas tudo aponta que Netanyahu renunciou para reforçar suas chances de assumir o comando do Likud, antes das eleições legislativas previstas para o último trimestre de 2006.

Desde a sua esmagadora derrota perante Sharon, em 2000, para liderar o Likud, Netanyahu se alinhou com a facção mais conservadora da direita, opondo-se ao projeto de desmantelamento das colônias em Gaza, apresentado em 2004 por Sharon, que passava ao grupo dos ''moderados'' em seu próprio partido.

Apesar do apoio da linha dura da direita, o ex-ministro das Finanças é pouco popular em Israel devido à sua política econômica ultraliberal, que só parece agradar aos empresários. Sua renúncia ocorre uma semana depois da apresentação do orçamento do Estado para 2006, no qual revisou para cima suas previsões, devido ao custo da retirada.

Netanyahu foi o mais jovem primeiro-ministro que Israel já teve e assumiu o Gabinete em 1996. Nos três anos em que esteve no poder, o convicto partidário da ideologia Grande Israel tratou de minar os acordos israelenses-palestinos de Oslo, assinados em 1993 pelo líder palestino da época, o falecido Yasser Arafat, e o então premier israelense, Yitzhak Rabin.

Mas o ex-ministro das Finanças não é o único que discorda da retirada. Vários colonos do assentamento de Gush Katif choraram ontem, ao tomar conhecimento do plano governamental de remoção das tumbas do cemitério judaico local.