Título: Dirceu ainda é o mandachuva do partido
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/08/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - A reunião do Diretório Nacional do PT, realizada neste fim de semana em São Paulo, mostrou que o ex-ministro José Dirceu pode até perder o mandato na Câmara, acusado de comandar o esquema do mensalão. Mas, dentro da legenda, a força do deputado e ex-presidente do PT ainda é enorme. Ele comandou as ações do Campo Majoritário - o grupo mais numeroso do partido - ditando o ritmo das decisões políticas e freando a velocidades das mudanças cobradas pela militância e pela sociedade. - Infelizmente, não há como dizer que o PT tem uma nova direção. Podem ter sido mudados os nomes, mas as políticas continuam as mesmas - criticou o vice-presidente do partido, Valter Pomar.

O encontro petista mostrou, mais uma vez, que Dirceu opera politicamente para não ver seu poder interno atropelado pela necessidade de mudanças partidárias. Uma das provas concretas foi a negociação para que o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares se afastasse da legenda, em vez de esperar ser expulso. Outra vitória do ex-chefe da Casa Civil foi garantir a legenda para os petistas que renunciarem ao mandato, temendo a perda dos direitos políticos decorrentes de uma cassação.

De acordo com um integrante do Campo Majoritário, as mudanças na direção petista serão graduais, mais lentas do que o cobrado pela sociedade. Para ele, no entanto, Dirceu não tem mais condições de influenciar nos rumos que o PT vai tomar daqui por diante.

Quem demonstrou publicamente, não ter gostado nada da atuação ostensiva de Dirceu foi o atual presidente do PT, Tarso Genro. Ele reconheceu que Dirceu tem o direito de participar dos encontros petistas, por ser membro da direção nacional.

- Mas eu gostaria efetivamente que ele não tivesse participado. Quem está gerindo o futuro do partido ainda é a antiga maioria. Se isso aí permanecer, se esta visão permanecer, impedirá de fato uma transição com autonomia, soberania, com respeito a todas as posições - atacou Tarso Genro.

A visão exposta por outro integrante do Campo Majoritário é pragmática: ''O velho ainda não se retirou totalmente e o novo ainda não teve força para se impor. A transição no PT será lenta, gradual e progressiva''. Valter Pomar, no entanto, não acredita na indignação exposta por Tarso Genro.

- Se ele, de fato, quer mudanças, por que votou alinhado com o Campo Majoritário? Por que aceitou ser o candidato deste grupo? Se está insatisfeito, que abra mão da candidatura.

Ontem, Tarso sinalizou que, se as coisas não mudarem no partido, ele poderá, de fato, abrir mão de disputar as eleições diretas para a presidência do PT em setembro.

Para a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), o partido precisa ter cuidado nesta fase de transição. Ela reconhece que existe uma pressão da sociedade para que o PT dê respostas imediatas aos clamores por punições.

- Temos que apresentar uma resposta à opinião pública mas, ao mesmo tempo, não podemos passar por cima de regras que nós próprio estabelecemos - lembra Ideli.

Ideli afirmou que, em todos os julgamentos do comissão de ética interna, sempre houve espaço para a ampla defesa dos acusados. A senadora declarou que, se esse direito não for concedido, a militância vai protestar. Integrante da CPI dos Correios, o deputado Maurício Rands (PT-PE) quer que o partido encontre mecanismos para trazer a militância de volta para os debates internos.

- É preciso retomar as discussões de base, cotidianas.

O deputado Antonio Carlos Biscaia, que é o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara considera que se perdurarem os métodos encarnados pela atuação do ex-ministro José Dirceu na reunião de sábado, a situação do partido se tornará catastrófica. De acordo com Biscaia, a reunião caminhava para uma deliberação de consenso até a chegada de Dirceu:

- Na reunião, os grupos e tendências apresentavam suas posições e buscava-se um entendimento. Com a chegada de Dirceu, a situação mudou. Ele conseguiu aprovar quase tudo o que desejava.

Os métodos encarnados por Dirceu, segundo Biscaia, são os mesmos do Campo Majoritário, que quer se impor, ''passando como um trator'' sobre o restante da legenda, atroplendo a busca do consenso:

- Se esses métodos antidemocráticos, autoritários, forem mantidos, o partido vai ficar rachado ao meio. Será a ruína. Dirceu mostrou, no sábado, que faz questão de manter o controle do PT. E a turma do Campo Majoritário obedece. Basta o carro dele apontar na garagem para que as pessoas já se mostrem dispostas a reverter suas posições.