Título: Reencontro dos dois desafetos
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 10/08/2005, País, p. A3

Dois dias depois do embate na reunião do Diretório Nacional do PT, o presidente do partido, Tarso Genro, e o deputado José Dirceu (PT-SP) encontraram-se novamente, desta vez na reunião da bancada da Câmara. Sentado na primeira fileira, Dirceu viu Tarso declarar que o PT só sairá da crise se houver responsabilização dos envolvidos. Tarso lamentou a desorganização partidária, especialmente no campo das finanças e propôs a convocação do Conselho de República, um órgão consultivo para tratar de questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas.

- A proposta é que o presidente faça um pronunciamento à nação, responsabilizando os envolvidos e propondo uma agenda mínima, para que o país volte a funcionar politicamente, não apenas no campo econômico - defendeu.

A convocação do Conselho, na visão de Tarso, não diminuiria o poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tarso afirmou que é fundamental aproveitar a crise para criar mecanismos de combate à lavagem de dinheiro e propostas de mudanças nas relações políticas.

- Seguindo o exemplo do juiz Baltazar Garzón, da Espanha, e da Operação Mãos Limpas, da Itália, o governo pode apresentar projetos que tramitem mais rápido no Congresso para combater crimes financeiros - sugeriu.

Ele fez questão de frisar, contudo, que as propostas foram apresentadas para serem discutidas com a bancada, sem imposição. Ele reconheceu, inclusive, que as relações entre partido, bancada e governo não estão azeitadas.

Apesar da tensão do fim de semana, Tarso disse que a relação com Dirceu está inalterada. Segundo ele, ambos representam quadros tradicionais no PT que em muitos momentos defenderam propostas semelhantes e, em outros divergiram:

- Não há motivo para que nossas relações mudem.

Durante os dez minutos em que utilizou a palavra, Dirceu negou que tenha trabalhado durante a reunião do Diretório do PT para diminuir a força do atual comando.

- Não corresponde à verdade que eu estaria trabalhando para inviabilizar a gestão de Tarso - disse Dirceu, de acordo com presentes.

Dirceu repetiu aos integrantes da bancada que não pretende renunciar ao mandato.

Após o duelo do fim de semana, Tarso ameaçou abrir mão da candidatura à presidência do PT. Ontem, voltou ao tema.

- No momento, o ideal seria um nome com apoio de 70%, 80% dos petistas. Não estou retirando meu nome, mas seria boa a indicação de outro companheiro - admitiu. (P.T.L.)