Título: Greves na UnB
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/08/2005, Opinião, p. D2

As aulas da Universidade de Brasília começaram há apenas dois dias e já se fala em uma nova greve dos professores. Poderia iniciar-se na segunda quinzena deste mês e é possível que, como da última vez, integre-se a uma paralisação de que participem mais instituições públicas de nível superior. Uma vez mais, o movimento tem a cobertura da Associação dos Docentes da UnB (Adunb), que acompanhará no dia 19 uma assembléia de caráter nacional. Entre as reivindicações está um reajuste emergencial de 18% e o estabelecimento de um calendário para que se reponham as perdas salariais acumuladas. Não se pode encarar essa questão de forma maniqueísta, como se houvesse maus e bons. De um lado, é preciso reconhecer que, como diz a Adunb, nos últimos 12 anos todos os reajustes salariais obtidos pelos professores foram conquistados por meio de greves. A remuneração dos docentes é muito baixa. Existem na UnB professores com salários reconhecidamente irrisórios, em especial os que trabalham em regime de tempo parcial.

De outro, não há dúvidas de alunos ficam prejudicados. Perdem os estudantes, perdem suas famílias, perde a universidade, perde o País. E nunca se deve esquecer que são os contribuintes - muitos dos quais sequer têm acesso ao ensino superior - quem custeia as instituições de ensino público.

As greves que se acumularam na UnB geraram um déficit operacional crônico, traduzido em atrasos quase permanentes no seu calendário. Na verdade, o cronograma da universidade mal foi normalizado após a última greve. Por isso mesmo será mais dolorosa e traumática uma recidiva.

Deve-se uma vez mais lembrar que a greve é o último recurso em qualquer negociação. Não resta dúvida de que a Nação precisa valorizar os quadros de suas universidades - até como uma condição para garantir a sua qualidade. Mas não se pode esquecer também que os estudantes já pagaram a sua cota de sacrifício, assim como a comunidade que custeia o ensino superior brasileiro