Título: Camarão, salmão e uísque para Silvinho
Autor: Sérgio Pardellas e Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 11/08/2005, País, p. A5

Em meio a garrafas de champanhe, uísque e energéticos, Marcos Valério Fernandes de Souza recebeu políticos e até o ex-presidente do Banco Popular, Ivan Guimarães, em festas no Hotel Grand Bittar de Brasília. As informações foram dadas pelo ex-sócio de Marcos Valério, Ricardo Machado, em depoimento anteontem na Polícia Federal.

Foram duas festas. Uma delas teria sido realizada, a pedido de Valério, no dia 5 de novembro de 2003, para comemorar o aniversário do então secretário-geral do PT, Sílvio Pereira. Nesta festa teria comparecido Ivan Guimarães, que deixou o Banco Popular no fim do ano passado, segundo depoimento de Ricardo Machado na PF.

Ele assumiu a instituição pelas mãos do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Durante um ano e sete meses, Guimarães gastou mais em publicidade - R$ 24 milhões - do que em empréstimos - R$ 20 milhões - para correntistas de baixa renda. A agência contratada pelo Banco Popular foi a DNA Propaganda, de Marcos Valério.

Anteontem, Machado revelou à PF ter contratado para o outro evento organizado por ele no hotel da capital federal - no dia 9 de setembro de 2003 - os serviços da cafetina Jeany Mary Corner, por meio da qual teria selecionado seis acompanhantes femininas. Segundo ele, o serviço teria sido solicitado por Valério. A taxa mínima por acompanhante seria R$ 500.

O Jornal do Brasil teve acesso a faturas de hospedagem do hotel Grand Bittar que indicam a utilização dos serviços da cafetina Jeany Mary Corner em setembro daquele ano. O documento registra três ligações de hóspedes do quarto 1507 para um telefone celular e outro fixo de propriedade de Jeany. Uma às 20h45, com duração de 49 segundos, outra às 21h40, de 1 minuto e 10 segundos, e o último e mais longo à meia-noite, que durou 1 minuto e 32 segundos.

Ainda de acordo com uma das faturas, no evento teriam sido consumidos nove champanhes Veuve Cliquot a R$ 2,25 mil, dois uísques Johnnie Walker Black Label 12 anos a R$ 380 e 17 uísques Swing 15 anos a R$ 255. No lobby bar, políticos hospedados na quota de Ricardo Machado compraram 21 energéticos Red Bull, recomendado para o suprimento de energia. Para a festa, orçada em R$ 8 mil, Machado reservou a suite presidencial de todos os apartamentos do décimo quinto andar. Foram contratados ainda um ascensorista exclusivo, um garçon, um maitre e o buffet.

Já o evento para comemorar o aniversário de Sílvio Pereira teria custado cerca de R$ 15 mil. A quantia, entregue por Valério a Machado, serviu para custear as despesas com dupla de músicos, buffet para 40 pessoas, decoração de aniversário e Carnaval para a suite presidencial e reserva dos os andares 14, 15 e 16 do hotel. As reservas foram feitas nos nomes de Machado, Valério e seu sócio Rogério Tolentino, conforme lista de hóspedes fornecida pelo Grand Bittar à CPI dos Correios.

- Nessa festa, os convidados iriam receber uma máscara, mas não foi possível obtê-las a tempo - disse Machado ao delegado Praxíteles Praxedes da Polícia Federal.

Segundo Machado, o evento ''surpresa'', no entanto, teria sido um ''fiasco'' porque, o ex-secretário-geral acabou não comparecendo, fato que teria afugentado os demais convidados. Mas apenas em um dos flats, os hóspedes teriam gasto R$ 8 mil de acordo com uma fatura de hospedagem do Grand Bittar naquele dia.

No quarto 1507 foram consumidos 44 Red Bulls a R$ 352, 16 champanhes Chandon Brasil por R$ 1 mil, três uísques Black Label 12 anos a R$ 570, três vinhos Las Hormigas Malbec a R$ 285, 40 pratos de camarão chileno com risoto ao funghi no valor de R$ 1,7 mil, dez de Salmão Oriental a R$ 260, além de 14 combinados de Sushi a R$ 1 mil. Também foi contratado serviço de canal de TV a cabo à la carte, o chamado ''pay-per-view'', mas a fatura não especifica o gênero do programa adquirido.

O nome de Jeany apareceu durante o depoimento da diretora financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, na CPI dos Correios, na semana passada, quando o senador Demóstenes Torres (PFL-GO) questionou se ela a conhecia. Simone Vasconcelos negou, mas a Polícia Federal decidiu incluir Machado e a cafetina no rol de depoentes.