Título: Lula arma a resposta
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Fonte: Jornal do Brasil, 12/08/2005, País, p. A2

No pronunciamento à nação que marcará hoje a abertura da 11ª reunião ministerial do governo, na Granja do Torto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promete dar uma resposta à altura do atual momento político do país. O formato e o tom do discurso foi acertado ontem no Planalto. No pronunciamento, segundo um ministro do núcleo político do governo, Lula, pela primeira vez, abordará de maneira mais direta a crise política, com as respostas do governo a questionamentos como o caixa dois em campanhas eleitorais e a relação do Planalto com os operadores no PT.

O presidente, segundo a mesma fonte, irá conclamar ministros e assessores para a retomada da agenda positiva, que se traduziria no reinício das votações no Congresso e repetir o mantra de que o governo não patrocina um acordão para salvar parlamentares da cassação, não se solidariza com os corruptos e defende as investigações completas.

Nas reuniões, concluiu-se que as últimas revelações das CPIs dos Correios e Mensalão exigiriam uma resposta contundente à sociedade. No início da semana, se discutiu a hipótese de o presidente fazer uma autocrítica, mas a idéia foi descartada pois soaria como confissão de culpa que o empurraria ainda mais para o epicentro do furacão.

Ontem, num cenário que contrastava com os semblantes preocupados de petistas no Congresso, o presidente Lula tentou aparentar despreocupação com o depoimento do principal marqueteiro de sua campanha, Duda Mendonça. Pela manhã, depois das primeiras revelações de Duda à CPI, Lula desabafou dizendo que ¿não mandou fazer nada daquilo¿, numa referência à abertura de contas no exterior para pagamento de uma dívida eleitoral. À tarde, na reunião sobre o salário-minimo, desdenhou da crise:

¿ Estou mais preocupado em resolver a questão do mínimo do que com o depoimento ¿ disse, segundo um ministro.

Assessores palacianos também desqualificaram as revelações de Duda. Rechaçaram a tese da oposição de que a crise subiu a rampa do Planalto e chegou ao presidente e disseram que a idéia do impeachment teria o único propósito de fragilizá-lo a ponto de forçar a antecipação da sucessão presidencial. Para um ministro que esteve com Lula, o caixa dois 2 do PT é fato requentado.

O depoimento de Duda, segundo o auxiliar, seria prova de que o governo e o presidente não temem as investigações. Consultado pelo marqueteiro, o presidente teria recomendado dizer a ¿a verdade¿.

Lula encerrou o dia em que a crise atingiu o ponto máximo jantando ¿a trabalho¿ com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na Granja do Torto. No cardápio, temas bilaterais e questões de interesse comum, como os acordos de cooperação técnica.