Título: Denúncias reabrem a discussão sobre impeachment
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Fonte: Jornal do Brasil, 12/08/2005, País, p. A4

Os depoimentos do publicitário Duda Mendonça na Polícia Federal e na CPI dos Correios deram fôlego dentro dos partidos de oposição à discussão em torno da possibilidade de processo de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice José Alencar. Apesar de alguns discursos inflamados, lideranças do PSDB e do PFL reconhecem que ainda faltam provas documentais contra o chefe do Executivo. Mesmo assim, articulam nos bastidores a obtenção de ''condições jurídicas e políticas'' necessárias para garantir o sucesso da empreitada. O trabalho inclui consultas a advogados sobre procedimentos legais em caso de destituição do presidente e do vice. Neste caso, assume o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que teria até 60 dias para convocar eleições indiretas (realizadas pelo Congresso) para a escolha do novo presidente que completaria o mandato de Lula.

Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) declarou ontem que o partido não pensa ainda em pedir a abertura do processo. Mas sugeriu que entraria na barca se a iniciativa partisse de uma entidade como a Ordem dos Advogados do Brasil. Ontem, o presidente do Conselho Federal da OAB, Roberto Busato, disse ao JB que o depoimento de Duda Mendonça ''tem ainda de ser avaliado, embora a cada dia a situação fique mais complicada'':.

- A única certeza que temos é que tudo deve ser apurado rigorosamente, para só depois sabermos qual a implicação desses fatos junto ao presidente. A OAB está atenta e não hesitará em tomar uma posição quando sentir que é o momento certo.

Depois do depoimento de Duda Mendonça, parlamentares do PFL subiram o tom contra o governo. Mas a maioria da oposição preferiu a cautela, alegando que ainda não há indícios suficientes para pedir o afastamento do presidente Lula.

- Não dá mais para vender essa imagem de um ''Lula-lá'' que não sabe de nada. A cada dia o presidente perde força e se complica - afirmou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), evitando falar em impeachment.

Líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman afirmou que a oposição ainda não pode pedir a investigação contra a possível prevaricação de Lula porque falta ''convicção pública''. Para ele, o presidente ainda está fortalecido pelo apoio popular.

- Não adianta a gente pedir o impeachment sem o aval da sociedade. Ainda não temos elementos suficientes para mostrar tudo que esta acontecendo para a população - disse.

O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (BA), afirmou que Lula não tem mais autoridade moral. Segundo ele, o melhor neste momento seria que ele se afastasse do cargo para dar explicações à sociedade.

- Seria bem menos doloroso. Mas, para o impeachment, precisamos de viabilidade política, parlamentar e jurídica - alertou.

Mesmo dentro do PT houve quem mostrasse que a situação se encaminha para o insustentável. O presidente da CCJ da Câmara, Antonio Carlos Biscaia (RJ), acredita que a crise está cada vez mais próxima de Lula.

- Mais uma vez fomos surpreendidos por fatos que desconhecíamos. Fatos que, infelizmente, podem atingir o presidente Lula - lamentou.

Daniel Pereira, Karla Correia, Luiz Orlando Carneiro, Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura.