Título: O PT em clima de velório
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 12/08/2005, País, p. A8

O depoimento de Duda Mendonça, confirmando que as campanhas publicitárias do PT em 2002 foram pagas com caixa dois e parte dos recursos foi encaminhado a empresas off shore nas Bahamas destruiu o resto de auto-estima que o PT tinha no Congresso. Em clima de velório, parlamentares da esquerda da legenda divulgaram em plenário uma nota , cobrando punições e explicações aos envolvidos no escândalo de corrupção. Muitos deputados não resistiram e choraram em plenário. - Este é um dos dias mais tristes da minha vida. Estamos aqui nos lembrando de tantos que morreram pela construção deste sonho e quantos militantes continuam se esforçando para que ele se realize - declarou Walter Pinheiro.

A esquerda petista não usou meias-palavras na nota lida em plenário. Defendem a imediata convocação do Diretório Nacional, em caráter extraordinário. Os deputados querem também o imediato afastamento dos dirigentes petistas envolvidos no escândalo, bem como dos parlamentares que comprovadamente sacaram recursos do Banco Rural. E pedem que estes sejam afastados da bancada e julgados pelo Conselho de Ética do PT.

As represálias prometidas são drásticas. Caso os pedidos não sejam atendidos, os deputados ameaçam não participar mais das reuniões de bancada, estabelecendo uma espécie de bancada paralela do PT. A punição, para eles, tem que ser exemplar. Se for para sobrar para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sobre.

- Fomos apunhalados pela costas pelo Lula. Não dá para seguir em frente com ele ao nosso lado. Antes, tínhamos um enfrentamento político e econômico. Agora, é uma questão ética - cobrou o deputado Orlando Fantazzini.

Antes do depoimento de Duda, os integrantes da esquerda petista se reuniram com o presidente nacional do PT, Tarso Genro. Ficou marcada na memória dos participantes do encontro uma das frases ditas por Tarso: ''Não sei o que vai acontecer amanhã com o PT''.

A alternativa de sair do partido, migrando para o PSOL, que já vinha sendo debatida pelos deputados dissidentes, ganhou força ontem. Nenhuma decisão ainda foi tomada, no entanto.

O bloco reúne 21 dos 91 deputados federais, que não seguem mais as orientações da liderança na Câmara. Possui ainda alguns membros eventuais no Senado, como os senadores Eduardo Suplicy (SP), Cristovam Buarque (DF) e Saturnino Braga (RJ).

Na reunião com Tarso Genro, antes das informações trazidas pelo marqueteiro da campanha de Lula, eles expressaram ao presidente do PT o profundo descontentamento com os rumos do partido.