Título: Filho de Pinochet é 'perigoso'
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Fonte: Jornal do Brasil, 12/08/2005, Internacional, p. A9

Marco Antonio Pinochet Hiriart, filho mais novo do ex-ditador chileno Augusto Pinochet, terá de ficar na prisão após ser considerado ''um perigo para a sociedade'', pela Corte de Apelações de Santiago. A justificativa valeu para que a 5ª Vara do Tribunal de alçada revogasse a liberdade provisória que o juiz Sergio Muñoz concedera a Marco Antonio há dois dias, no processo por fraude tributária que responde com a mãe, Lucía Hiriart - liberada após o pagamento de uma fiança de US$ 3.571.

Muñoz investiga a origem da fortuna do ex-ditador (1973-1990) há um ano. Ontem citou os dois após verificar que abriram contas no exterior para que Pinochet evitasse o pagamento de impostos no Chile. O montante chega a US$ 8,92 milhões.

O juiz descreveu fatos e situações que mostram um perfil diferente do filho de Pinochet, o que o levaram a ser considerado ''perigoso''. Revelou, por exemplo, a rede de empresas e identidades usadas por Marco Antonio para movimentar o dinheiro do pai, além das ligações com Edgardo Batich, pessoa próxima ao traficante internacional de armas sírio Monzer Al Kassar. Marco Antonio e Batich - também ligado ao narcotráfico, segundo a imprensa - aparecem como receptores de passaportes roubados em 1990. No caso do filho do ex-ditador, os documentos foram entregues por um assessor direto de Pinochet.

Segundo Muñoz, no início de 1980, o acusado falsificou sua carteira de identidade e aumentou a data de nascimento em quatro anos para obter a carteira de motorista. A informação veio a público quando se envolveu em um acidente no qual uma amiga morreu. O rapaz manteve uma fachada pública até a prisão do pai em Londres, em outubro de 1988, quando passou a ser o porta-voz da família, substituindo o irmão mais velho, Augusto.

Marco Antonio Pinochet terá que continuar no ''Anexo Capuchinos'', prisão de segurança mínima, no centro de Santiago.

A decisão de libertar Lucía, detida no Hospital Militar de Santiago com crise de hipertensão, foi unânime. Mas o benefício só foi concedido ''em atenção à idade (82 anos) e estado de saúde'', e não por questões processuais.

A esposa de Pinochet não declarou US$ 2,47 milhões em impostos entre 1980 e 2004. A defesa argumenta que, até maio de 1999, quando separou seus bens dos de seu marido, era ''uma simples dona-de-casa sem renda própria'', e por isto estava isenta de declarar ou pagar impostos.

O juiz, no entanto, entendeu que Lucía Hiriart, ''sem atividade comercial, ganhos independentes, registro de contribuinte ou apresentar declarações anuais de renda, adquiriu propriedades e veículos antes da separação de bens''. Para Muñoz, tal prática confirma as especulações de que Lucía era cúmplice, já que tinha conhecimento das entradas irregulares do marido.

O ex-ditador esteve com a mulher no hospital antes que ela fosse libarada. Lúcia foi considerada por muitos ''o poder atrás do trono'' durante a ditadura, por causa de sua personalidade.

Em atitude rara, Pinochet emitiu declaração assumindo a responsabilidade por suas operações financeiras e lançou um desafio para que o prendam. Em breve, a Corte Suprema revisará, em última instância, o cancelamento da imunidade que detinha .Segundo a investigação do juiz Muñoz, a fortuna não declarada do general seria de US$ 17 milhões a US$ 35 milhões.