Título: Menos Humilhação
Autor: Samantha Lima, Kelly Oliveira e Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 12/08/2005, Economia & Negócios, p. A19
A crueldade a que são submetidos idosos e doentes em busca de atendimento nos postos do INSS demonstra um dos principais pontos a serem tratados pelo choque de gestão de que a Previdência precisa. As crônicas filas obrigam candidatos a benefícios a empreender uma humilhante peregrinação, iniciada, em alguns casos, ainda de madrugada e repetida inúmeras vezes em decorrência da ineficiência da máquina burocrática, como vem mostrando o Jornal do Brasil em série de reportagens. Em busca de soluções para a parte mais caótica do sistema, o INSS começará a implantar ainda este semestre um programa que promete reduzir em 70%, em média, o tempo de espera do beneficiário nos postos, conforme antecipou ao JB o secretário de Previdência Social, Helmut Schwarzer. O projeto está sendo implantado inicialmente em cinco postos da capital paulistana. Schwarzer explica que houve treinamento dos funcionários e desenvolvimento de rotinas de atendimento para tentar evitar que beneficiários tivessem de retornar repetidas vezes aos postos, diante de intermináveis pendências. Assim, o tempo médio de atendimento para demandas simples caiu de 45 minutos para menos de 15 minutos e as mais complicadas, de três horas para menos de uma.
Em entrevista ao JB, o novo presidente do INSS, Valdir Moysés Simão, reconhece que a rede de atendimento do INSS é ¿insuficiente e mal equipada¿. Segundo Moysés, o desafio é vencer as limitações orçamentárias e assim ampliar a rede de atendimento por meio de parcerias com municípios. Está também em seus planos o aprimoramento da página da Previdência na internet e do PrevFone. Moysés anunciou a criação de uma diretoria de atendimento, que terá a função de traçar um perfil do atual atendimento prestado nos postos e propor soluções para melhorar os serviços.
¿ Em grandes centros urbanos é flagrante que a demanda está reprimida por falta de capacidade nossa de atender.
A idéia de Valdir Moysés para ampliar a rede é expandir o projeto do PrevCidade, parceria do Ministério da Previdência com prefeituras para levar atendimento a pequenos municípios que não contam com agências do INSS.
¿ Há municípios em que a demanda seria tão pequena que não se justifica uma unidade física do INSS. Nesses casos, é possível estender o atendimento através de parcerias com as prefeituras ¿ planeja.
Outro projeto do novo presidente do INSS é melhorar a capacidade tecnológica, com a compra de computadores e aperfeiçoamento do atendimento ao segurado pela página da Previdência na internet e pelo telefone.
¿ Precisamos, primeiro, melhorar o acesso a serviços. O segurado ainda tem dificuldades em requerer um benefício através da nossa página, ou agendar perícia médica.
O presidente do INSS também afirmou que, com a criação da Super-Receita, prevista para o próximo dia 15, será possível investir todo o trabalho na área de benefícios. A Super-Receita integrará ao caixa da Receita Federal a arrecadação das contribuições previdenciárias, deixando com o INSS apenas a concessão e administração dos benefícios.
¿ Estamos repensando a estrutura organizacional do INSS para torná-la mais ágil e com uma linha de comando mais racional, mas isso não implicará cortes de cargos. Pretendemos valorizar os servidores da casa.
Valdir Moysés não confirmou a troca de dirigentes estaduais, mas afirmou que uma eventual substituição terá caráter técnico, sem nenhuma indicação política. Para quem as filas do INSS tornaram-se rotina, resta a torcida para que as medidas tenham o efeito esperado. O porteiro Muniz de Souza, de 64 anos, tenta há meses entrar com pedido de aposentadoria. Já foram três visitas ao posto em menos de um mês ¿ onde aguarda atendimento sob o sol forte.
¿ Pior do que enfrentar a fila, é saber que não conseguirei resolver o problema. A Previdência poderia reforçar os postos de atendimento com mais funcionários. Mesmo quando não há greve, eles não são capazes de atender a todos e inventam essa distribuição de senhas, que nos obriga a madrugar na fila.
Maria Claudia Fernandes chegou às 7h ao posto do Méier, Zona Norte do Rio. Mais de duas horas depois, permanecia no mesmo lugar. A doméstica machucou a mão no trabalho e está afastada há mais de dez dias.
¿ Estou cansada e com muita dor na mão. Não agüento mais esse martírio.