Título: Lula pede desculpas com atraso
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 13/08/2005, País, p. A3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o tom de palanque das últimas semanas para, em um pronunciamento curto e sério, pedir desculpas à nação. Foi a primeira referência direta e pública do presidente sobre as denúncias de corrupção envolvendo o PT e o governo, em quase três meses de crise política. O foco da fala foram os erros praticados pelo PT.

- Não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que temos de pedir desculpas. O PT tem de pedir desculpas. O governo, onde errou, tem de pedir desculpas - disse Lula, na abertura da 11ª reunião ministerial de sua gestão, a primeira depois da reforma ministerial.

Lula só decidiu falar à Nação sobre a crise depois que o chefe de sua propaganda eleitoral e organizador de seus discursos, Duda Mendonça, confessou à Polícia Federal e à CPI dos Correios ter recebido mais de 10 milhões de reais pela campanha do PT em 2002, por meio de caixa dois em conta num paraíso fiscal. A reação foi imediata:

- No tempo, a fala foi atrasada; no conteúdo, vazia, pois não apontou culpados - atacou Eduardo Paes (PSDB-RJ).

Lula se declarou traído e indignado com as revelações sobre irregularidades envolvendo o PT.

- Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento - afirmou o presidente, sem apontar os nomes dos responsáveis pelas ''práticas inaceitáveis''.

O pronunciamento foi considerado frustrante pela oposição e mesmo por políticos do PT. Aliados do presidente, no entanto, receberam a fala de Lula como um passo importante para o enfrentamento da crise, embora limitado pelas circunstâncias adversas.

- Ele busca responsabilizar as pessoas que nos levaram a essa situação difícil. Não podíamos esperar outra postura de um homem de bem - afirmou o presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), ressaltando que Lula demonstrou compromisso com a ética.

O pronunciamento era aguardado por políticos da oposição e do próprio PT, desde a comprovação, em julho, das transações financeiras entre a antiga direção do PT e as empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza.

- Foi um passo na direção da realidade, mas Lula não nomeou o intelecto da ilegalidade que estava no PT em sua campanha - criticou Paulo Delgado (PT-MG), o mais experiente deputado petista (cinco mandatos). - Para defender o povo é preciso dar o nome dos inimigos do povo.

Lula ouviu aliados antes do pronunciamento