Título: Chanceler do Sri Lanka é executado
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 13/08/2005, Internacional, p. A9

O ministro de Relações Exteriores do Sri Lanka, Lakshman Kadirgamar, foi assassinado ontem, ao ser baleado na cabeça, quando estava perto de casa, em Colombo. O político chegou a passar por uma cirurgia de emergência, mas não resistiu. Nenhum grupo assumiu o crime. Entretanto, a polícia considera os guerrilheiros do Tigres de Libertação da Pátria Tâmil (TLPT) os principais suspeitos.

O assassinato ocorreu em meio ao aumento da tensão entre o governo e os rebeldes separatistas, que têm ameaçado retomar o enfrentamento armado. Ambos os lados se acusam de violação do acordo de cessar fogo, vigentes desde fevereiro de 2002. A trégua está em xeque ainda pela suspensão das negociações, em 2003.

Outra evidência é que no começo deste mês, dois membros da guerrilha foram presos a apenas 1km de distância da residência do chanceler. Estavam pesquisando e gravando detalhes da área.

Kadirgamar, de 73 anos, tinha acabado de ter uma reunião pré-lançamento de seu novo livro e foi nadar. A rua onde morava era vigiada 24 horas por dia.

- Quando fazia o caminho de volta para casa, às 23h, foi atingido por três tiros, na cabeça e no peito - contou o inspetor-geral, Chandra Fernando, segundo o qual, os atiradores deviam ser dois.

A polícia passou a madrugada fazendo buscas, inclusive com helicópteros.

- Duas pessoas foram detidas nas cercanias da casa de Kadirgamar - revelou um policial. Horas mais tarde, o governo declarou estado de emergência nacional.

Amigo pessoal e considerado um dos colaboradores mais próximos do presidente Chandrika Kumaratunga - que o designou para a pasta das Relações Exteriores em abril de 2004 - o ministro tinha à sua disposição uma guarda pessoal com mais de 100 agentes. Ele já ocupara a chefia da chancelaria entre os anos de 1994 e 2001.

Kadirgamar afirmava em público que era um ''alvo'' dos rebeldes do TLPT, por ter conseguido fazer com que cinco países, incluindo Estados Unidos e Grã-Bretanha, banissem o grupo e o classificassem como ''terrorista''. O ministro era visto pela guerrilha como um traidor, justamente por ser membro da minoria cristã tâmil, que, desde 1983, confronta o governo muçulmano cingalês em busca de um Estado independente no Norte. Mais de 65 mil pessoas morreram na guerra civil.

- Espero que a tragédia da morte de Kadirgamar não enfraqueça o compromisso do povo do Sri Lanka em conseguir uma paz duradoura - reagiu o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

A execução do chanceler aconteceu no mesmo dia do assassinato, também em Colombo, da jornalista Relangi Sevaraja, conhecida por suas posições contrárias ao TLPT. É a segunda jornalista a ser morta no Sri Lanka em apenas quatro meses.