Título: E agora Lula?
Autor: Rodrigo de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 13/08/2005, Idéias & Livros, p. 1

Eleitores atônitos. Intelectuais surpresos. Jornalistas excitados. Enquanto a oposição aproveita o palanque eleitoral eletrônico das CPIs transmitidas ao vivo, o dedo em riste do mais farisaico moralismo estampado na mídia apresenta suas armas, o governo do presidente Lula se perde no lamaçal dos feitos mal explicados. E assim a crise política segue consumindo a energia das instituições e arrefecendo a esperança de muita gente de boa vontade. Em momentos do gênero, portanto, convém parar e pensar. É o que farão intelectuais do mais alto relevo nas próximas semanas. A partir de segunda-feira, dia 15, o ¿plantão da crise¿ será acionado no Rio, com uma série de seminários intitulados O País de Lula: e agora? ¿ Esperança e Projeto Brasileiro. Sempre às 18h, no Salão Marquês do Paraná, no 42º da Universidade Candido Mendes (Rua da Assembléia, 10, Centro).

No primeiro dia de debates, o organizador dos seminários, o cientista político Candido Mendes, o teólogo Leonardo Boff e os sociólogos Hélio Jaguaribe, Enrique Larreta e Luiz Alberto Gómez de Souza. No dia 22 será a vez do jurista Miguel Reale Júnior, do sociólogo Luiz Eduardo Soares e dos cientistas políticos Fabiano Santos e Renato Lessa.

Fechando o ¿plantão da crise¿, os cientistas políticos Wanderley Guilherme dos Santos, Luiz Werneck Vianna e Argelina Figueiredo, além de Plínio Arruda Sampaio, candidato à presidência do PT. À mesa, a discussão dos rumos do país na ressaca da instabilidade produzida pelas denúncias de corrupção que têm desmanchado moralmente PT, governo e Congresso.

O Idéias antecipa hoje parte das reflexões dos seminários. O calor dos fatos acaba por turvar a compreensão de suas conseqüências. É o que ressalta, por exemplo, o professor Renato Lessa, do Iuperj: ¿A precipitação diária de eventos, produzidos em cenários diversos, está a desafiar nossa capacidade de interpretação¿.

No frigir da crise, os artigos e entrevistas publicados nas próximas páginas reconhecem o impasse que engolfou o partido e o presidente eleitos para promover mudanças substantivas nos costumes políticos do país. ¿Os sonhos do povo e as promessas da campanha foram traídos¿, opina D. Pedro Casaldáglia.

Apesar da natural dificuldade, os seminários ¿ e o caderno, evidentemente ¿ preocupam-se em projetar cenários futuros. ¿A grande crise política abre a oportunidade para uma grande renovação¿, escreve Hélio Jaguaribe, ressaltando a necessidade de grandes soluções, rejeitando emendas de esparadrapo.

Some-se a recuperação de bandeiras petistas sustentadas em 25 anos, sublinhada por Leonardo Boff, e a necessária ¿ação-cidadã¿, defendida por Candido Mendes para remover os ¿desequilíbrios de fundo¿ existentes no sistema político brasileiro. As nuances de tais mudanças serão esmiuçadas nas páginas a seguir.