Título: Campos em clima de guerra
Autor: Roberto Barbosa e Marco Antônio Martins
Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2004, País, p. A3

CAMPOS e RIO - Um dia depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter decidido pela participação do Exército nas eleições de domingo em Campos, no Norte Fluminense, a campanha eleitoral na cidade teve, ontem, a marca da violência. Partidários dos candidatos Geraldo Pudim (PMDB) e Carlos Alberto Campista (PDT) se enfrentaram nas ruas do município trocando socos, pontapés e pedradas. Uma mulher ficou ferida.

- A situação na cidade piorou. O nosso pedido aconteceu porque precisamos dar tranqüilidade para que as pessoas votem - afirmou o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o desembargador Marcus Faver.

Faver se reúne hoje à tarde, na sede do tribunal, com as autoridades responsáveis pela segurança pública no Estado. O presidente do TRE vai sugerir ao Comando Militar do Leste (CML) que a partir de amanhã o Exército ocupe as ruas de Campos. Desde a manhã de ontem, os militares começaram a mapear a cidade do Norte Fluminense para definir os pontos que devem ser patrulhados.

O acirramento da disputa e o uso das máquinas do governo estadual e da prefeitura levaram o TSE a decidir pela utilização do Exército. Inicialmente, calcula-se que 600 militares atuarão em Campos, sendo 300 da Brigada de Infantaria Pára-Quedista, considerada uma das tropas de elite do Exército. Em 2002, nas eleições presidenciais, os pára-quedistas ocuparam as ruas do Rio próximo às favelas. Na ocasião, havia informações de que a facção criminosa Comando Vermelho criaria tumulto nessas regiões. Nada aconteceu.

Desta vez, em Campos, o clima foi tenso durante todo o dia de ontem. Nas imediações da ponte Marcelo Martins - sobre o Rio Paraíba do Sul, militantes dos dois candidatos protagonizaram o primeiro confronto. A militante do PDT, Andréa Cristina Leandro, 30 anos, foi agredida a pauladas pela militante do PMDB, Claudia Márcia Pereira, 35 anos, no parque Santa Rosa, periferia da cidade. Na 146ª DP, Andréa afirmou que foi agredida porque passeava com uma camisa do candidato do PDT, Carlos Campista. Cláudia Márcia alegou que a briga foi doméstica. Militantes do PMDB e do PDT também trocaram insultos no bairro Jardim Carioca. Cerca de 100 partidários de Geraldo Pudim, candidato do ex-governador Anthony Garotinho usavam um trio-elétrico com o qual provocavam o prefeito Arnaldo Viana.

Existe a expectativa de mais confrontos hoje. Professores da Universidade Estadual do Norte Fluminense decretaram greve por tempo indeterminado e reivindicam aumento de 67% referente às perdas dos últimos 11 anos. Eles prometem uma manifestação em frente ao prédio onde está o gabinete provisório da governadora Rosinha Matheus.

- No Rio, houve confronto dos professores com a polícia. Agora, além dos policiais, existe o risco de provocações dos militantes do PMDB - disse o presidente da Associação dos Docentes da Uenf, Marcos Pedlovisk.

Por meio de fax enviado à diretoria da Aduenf, o secretário de Ciência e Tecnologia do Estado, professor Wanderley de Souza, disse que não vai dialogar com os professores. Garotinho, que permanece em Campos, mudou o discurso e passou a ser favorável ao envio de tropas. No primeiro turno, ele e Rosinha foram contra.

- O clima não é o de normalidade. Acho prudente a presença das tropas federais. No primeiro turno não havia esse clima - analisou Garotinho.

Em meio a tumultos em diferentes pontos da cidade, fiscais do TRE apreenderam 92 cestas básicas na casa da professora Edila Marianna Ribeiro Barreto, 37 anos. Ela é diretora de uma escola estadual no distrito de Ibitioca e foi candidata à vereador pelo PSC, na coligação que apóia Geraldo Pudim. A professora já tinha distribuído oito cestas de alimentos até a chegada dos fiscais. Há uma semana, a juíza Denise Appolinária proibiu a distribuição de cestas de alimentos e mandou cessar todos os programas sociais do Estado e da prefeitura neste período eleitoral.