Título: Ex-agente afirma que espionagem política persiste
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2004, País, p. A4
BRASÍLIA - O monitoramento, a espionagem e a perseguição a parlamentares e integrantes de movimentos estudantis e sociais, ainda são uma prática recorrente na democracia. A revelação foi feita pelo ex-agente do serviço de inteligência do Exército, cabo José Alves Firmino, em depoimento ontem à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Firmino admitiu que quando era araponga, espionou, depois de promulgada a nova Constiutição e bem depois de decretada a Anisitia, políticos de esquerda, inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e até o MST. O cabo reformado, que fez espionagem política entre 1990 e 1995, também seguiu os passos do atual ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, do presidente nacional do PPS, Roberto Freire (PE) e do ex-deputado falecido Sérgio Arouca (PCdoB). Segundo ele, o Serviço de Inteligência do Exército utiliza até hoje o mesmo sistema do DOI-Codi da repressão no qual estariam envolvidas sete unidades de inteligência do Exército, num total de 541 agentes. - Ainda há uma preocupação nos dias atuais em fazer a vigilância de parlamentares e movimentos sociais. O sistema é o mesmo do Doi-Codi. Meu medo é que não haja controle. Eles (arapongas) são capazes de mandar matar - alertou o cabo que, no fim do depoimento de cerca de três horas, pediu, num relato emocionado, garantias de vida à Comissão e ao presidente Lula.
O ex-agente, que mora num bairro modesto em Goiânia, disse estar sofrendo ameaças de morte de integrantes das Forças Armadas desde quando entregou três caixas de arquivos secretos do Exército à Comissão de Direitos Humanos em 1997, incluindo fotos que, segundo ele, seriam do jornalista Wladimir Herzog, morto nas dependências do DOI-CODI de São Paulo.
Segundo Firmino, ainda há uma grande quantidade de documentos ''capazes de encher caminhões'' num arquivo subterrâneo do Pavilhão 31 de Março, no Setor Militar Urbano, sede do comando Geral do Exército, em Brasília. O material poderá ajudar a elucidar mortes de militantes políticos.
- Defendo a abertura parcial dos arquivos. Ou seja, o acesso aos familiares e perseguidos políticos que ainda lutam pela indenização - disse.
Parte dos registros, no entanto, teria sido queimada, segundo Firmino, nas imediações do Ministério da Defesa em Brasília, com a anuência do Comando Militar do Planalto.
- Não vou revelar quem dava a ordem. Mas está tudo registrado no Exército. Nada foi queimado sem que estivesse registrado.
Durante o depoimento, por duas ocasiões o ex-araponga não conseguiu conter o choro quando questionado sobre suas atividades no passado.
- Fui obrigado a fazer missões ilegais. Mas não cometi nenhum crime pois estava recebendo ordens. Diziam que o que eu fazia era em nome da nação brasileira - disse.