Título: Sumiço de 58 mil cédulas gera suspeita
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2004, Internacional, p. A7

Documentos foram enviados pelo correio a eleitores da Flórida no início de outubro e até agora não chegaram ao destino

MIAMI - As autoridades da Flórida iniciaram uma investigação para determinar o paradeiro de 58 mil cédulas eleitorais enviadas pelo correio aos eleitores do estado nos primeiros dias de outubro e que ainda não foram recebidas pelos destinatários.

Paige Patterson-Hughes, porta-voz do Departamento para o Cumprimento da Lei (FDLE, na sigla em inglês), que está conduzindo a investigação, informou que foram alertados por funcionários eleitorais do condado de Broward, Norte de Miami, que fizeram uma notificação sobre o extravio de cédulas.

Os eleitores de 26 estados estão autorizados, a partir deste ano, a enviar o voto pelo correio - o chamado ''voto ausente''- sem ter que apresentar uma justificativa para fazê-lo, requisito antes exigido.

Gisela Salas, supervisora adjunta do Departamento de Eleições de Broward, disse a jornalistas que as cédulas foram enviadas aos eleitores que as solicitaram entre os dias 7 e 8 de outubro.

Após vários dias, o departamento começou a receber ligações de eleitores perguntando por que não tinham recebido o documento, necessário para votar. As cédulas representam a metade do total solicitado em Broward por aqueles que optaram votar desta forma.

Preocupados com o novo sistema de votação eletrônica na Flórida, muitas organizações, principalmente democratas, pediram a simpatizantes que fizessem uso do ''voto ausente'', para que fique registrado em papel, já que as máquinas utilizadas não imprimem recibos.

- Odeio dizer que as cédulas estão ''perdidas'', porque isso não tem base e algumas estão de fato começando a chegar, mas é realmente um atraso extraordinário no serviço de correio - disse Salas.

Por outro lado, a porta-voz do Serviço Postal Enola C. Rice negou que a agência tenha culpa no desaparecimento das cédulas e disse ao jornal Sun Sentinel, de Fort Lauderdale, que há funcionários responsáveis pelo manejo dos votos por Correio e que todos são ''processados e entregues imediatamente'', quase sempre em um dia.

- O que estamos vendo não tem precedentes e se a supervisora das eleições precisar de nossa ajuda, a ajudaremos - disse a prefeita de Broward, Ilene Lieberman.

- Parece que os republicanos estão tratando de roubar o voto outra vez - acusou Dianne Glasser, vice-presidente do Partido Democrata da Florida.

Em 2000, a Flórida, governada pelo irmão do presidente George Bush, foi o epicentro de um caos eleitoral. Na ocasião o país teve que esperar por 36 dias para saber quem seria o novo presidente, devido às polêmicas envolvendo a apuração dos votos.

Mas a batalha judicial este ano começou mais cedo. Antes mesmo do dia oficial da eleição, 2 de novembro, os recursos à justiça já se multiplicaram, causando o temor de que, como no pleito passado, juízes exerçam um papel determinante na designação do próximo presidente americano.

''Trinta e cinco processos já foram abertos em 17 Estados, alguns antes mesmo de o primeiro voto ter sido depositado'', indignava-se ontem o presidente do Partido Republicano, Marc Racicot, em um e-mail enviado aos militantes, no qual acusou os democratas de quererem ''ganhar a eleição nos tribunais''.

Do outro lado, os democratas justificam os processos judiciais como resposta à intenção que teriam, segundo eles, os republicanos, de intimidar os eleitores para privá-los do direito ao voto.

''Não se sabe bem se George Bush está fazendo campanha ou fomentando um golpe de Estado'', escreveu terça-feira Harold Meyerson, editorialista do The Washington Post, que apoiou John Kerry.

Por estes motivos juristas e observadores já prevêem atraso no resultado:

- Não será surpresa se não for decidido no dia 2 de novembro - declarou Joanne Wright, diretora adjunta da organização Project Vote