Título: Oposição também cria um gabinete da crise
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 16/08/2005, País, p. A3

Os partidos de oposição ao governo formaram ontem um gabinete de crise - que promete reunir-se semanalmente - e decidiram que não vão pedir, neste momento, o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como antecipou o Jornal do Brasil na edição de domingo. PFL, PSDB, parte do PMDB, PPS, PV e PDT concluíram que o afastamento de Lula deve ser uma decisão da sociedade e não, de partidos políticos. Oposicionistas - que estão medindo passos para não ajudar a vitimizar Lula - dizem publicamente que o temor é que o impeachment provoque uma crise econômica e social no país. Mas, internamente, eles avaliam que devem evitar o que chamam de ''reação das massas'' em defesa do presidente. Todo o cuidado é pouco, avaliam, para não serem acusados de um golpe contra o atual governo. - Esta é uma decisão que a sociedade tem que sugerir a nós, não o inverso. Temos que reagir a um desejo, não agir em sua direção - explicou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

A reunião de estréia do grupo já apresentou a primeira discórdia: setores do PFL e do PSDB pretendem que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reexamine as contas de campanha do presidente Lula, para confrontar com as declarações do marqueteiro Duda Mendonça.

A decisão chegou a ser anunciada pelo líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). O pefelista disse que as equipes jurídicas tucana e pefelista iriam preparar um parecer jurídico para encaminhar ao TSE. O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) avisou que vai pedir a quebra de sigilos das contas de campanha do PT também na CPI, para fazer investigação paralela. O presidente da legenda, senador José Bornhausen (SC), contudo, não bateu o martelo.

- Não temos nada definido. É um assunto que vai ser discutido ainda na reunião da Executiva do partido, marcada para hoje - rebateu Bornhausen, sem muita convicção.

Vice-líder do PSDB na Câmara e integrante da CPI dos Correios, o deputado Eduardo Paes (RJ), classificou como ''besteira'' a proposta de reexaminar as contas de Lula durante a campanha de 2002. Ele anunciou que vai votar contra a proposta na CPI e pedir que seu partido não apóie a iniciativa.

- Se fizermos isso, estaremos caindo na desculpa do governo de que tudo não passou de crime eleitoral. Não é crime eleitoral, é roubalheira mesmo - acusou o tucano.

Em relação ao impeachment, no entanto, o discurso está bem ensaiado. O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que faz parte da ala oposicionista do partido, confirmou que seria péssimo para o Brasil a destituição do presidente Lula.

- O julgamento é político, não jurídico. Não queremos provocar tensões sociais. É melhor deixar como está, assegurando a governabilidade - defendeu Temer.

Ontem, o PT conseguiu uma vitória no TSE: o ministro Luiz Carlos Madeira julgou extinta a ação em que o senador César Borges (PFL-BA) pedia o cancelamento do registro civil e do estatuto do PT por não apresentar prestação de contas de campanhas nos anos de 2002 e 2004.