Título: Cópias de notas frias somem de CPI
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 16/08/2005, País, p. A5

Dez cópias de notas fiscais frias da DNA Propaganda sumiram da CPI dos Correios. São notas em que a empresa de Marcos Valério Fernandes de Souza recebe cerca de R$ 700 mil da Amazônia Celular e da Telemig Celular - empresas do Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. Segundo o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), o desaparecimento das notas pode ser uma tentativa de eliminar provas, já que os documentos haviam sido emitidos em favor da empresa de Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão. A CPI havia requisitado todas as notas fiscais recolhidas pela polícia mineira e o Ministério Público, durante tentativa de queima de arquivos por um policial. Eduardo Paes informou que as cópias que sumiram são das notas fiscais que não teriam sido registradas na contabilidade oficial das empresas Telemig Celular e Amazônia Celular, de acordo com cruzamento de dados feito pela CPI.

Segundo o deputado, ontem mesmo a CPI requisitou do Ministério Público de Minas Gerais novas cópias das notas fiscais que sumiram. Paes afirmou que é ''impressionante'' o aumento dos valores pagos pela Amazônia Celular à empresa de Valério durante o governo do PT. Até o fim de 2002, segundo o deputado, a DNA recebia entre R$ 300 e R$ 500 mil anuais da Amazônia Celular. Em 2003 e 2004, segundo o parlamentar, este valor aumentou para R$ 25 milhões.

- A possibilidade destes pagamentos serem feitos não por serviços prestados, mas para esquentar algum dinheiro, aumenta com estas notas frias - diz Paes.

O aumento das transferências de recursos das telefônicas para as empresas de Valério, somado com o sumiço das notas frias - diz o deputado - aumenta a desconfiança de que as empresas de Dantas estejam realmente envolvidas com o pagamento do mensalão, por meio de depósitos nas contas de Valério.

- Estas empresas são suspeitas há algum tempo. A CPI vem buscando elementos para comprovar estas suspeitas - diz Paes.

Telemig, Amazônia Celular e Brasil Telecom transferiram juntas R$ 145 milhões para as empresas de Valério em cinco anos. Daniel Dantas é o maior depositante de recursos nas contas de Valério, conforme levantou a CPI. Só a Telemig fez 299 depósitos nas contas da DNA Propaganda, de Marcos Valério.

A CPI deve ouvir ainda esta semana o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, preso em Avaré (SP). Para os parlamentares, será uma boa oportunidade para esclarecer de vez o esquema de lavagem de dinheiro por meio do extinto Banco Banestado.

As empresas de Valério enviaram US$ 1,2 milhão para o exterior pelo mesmo esquema de lavagem de dinheiro da conta Beacon Hill. O Opportunity fez 268 operações financeiras, no valor de US$ 18 milhões, entre 1997 e 2002, pelas contas Beacon Hill, Azteca, Conde Investments e Courchevel Investments, do doleiro Sílvio Roberto Anspach, de acordo com investigação da Polícia Federal.

A CPI já recebeu um requerimento para convocar o banqueiro Daniel Dantas para depor em Brasília, mas a votação do documento vem sendo protelada. Ainda não houve consenso para votar o pedido, feito pelo deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS).