Título: Colonos e soldados se unem na dor
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/08/2005, Internacional, p. A8

Os colonos radicais da Faixa de Gaza e da Cisjordânia têm até à meia-noite de hoje para sair de suas casas se não quiserem ser levados à força por 50 mil soldados e policiais israelenses que iniciaram ontem o Plano de Desligamento do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon. A primeira fase da operação, a de notificação, foi marcada por forte resistência e muito choro dos dois lados: colonos e soldados dividiam o sofrimento da retirada. Os primeiros sentiam-se traídos, enquanto os militares viam-se na difícil missão de expulsar vizinhos, amigos e compatriotas. Em discurso à TV, o premier pediu aos palestinos - que já começaram a festejar - que provem o compromisso com a paz. Prometeu um ramo de oliveiras em troca, mas deixou a porta aberta para agir em caso de ataque.

Metade dos 8,5 mil colonos já deixaram Gaza, mas quase 5 mil militantes, vindos de outras áreas, juntaram-se aos remanescentes e prometem resistir a qualquer preço. As colônias Ganim e Kadim, na Cisjordânia, já foram esvaziadas. Policiais palestinos - 7.500 - monitoram a operação impedindo que militantes se aproximem das áreas desocupadas.

Em Gush Katif, foco de resistência, 200 manifestantes barraram comboios do Exército e caminhões de mudança. Ao mesmo tempo, outros radicais concentraram-se no acesso a Neve Dekalim, o maior dos assentamentos. Furaram os pneus e cercaram os jipes militares. Controlados, viram soldados desarmados serem recebidos por colonos que pediam desobediência.

- É mais difícil do que imaginei - afirmou o jovem soldado Yuval, que se escondeu para chorar em um veículo blindado em Morag, um dos assentamentos mais radicais.

- Estive no exército com você e queria voltar à carreira militar. Mas, como posso fazer parte de um grupo de traidores? - perguntou Joseph, de 19 anos, ao soldado Yoav.

Os militares receberam cursos para a retirada. No entanto, diante dos colonos, as teorias pareciam sumir:

- Se usasse só o coração, a missão seria impossível - disse o tenente-coronel Avi Open.

Muitos colonos sentiam-se traídos por deixar terras que haviam sido estimulados pelo próprio Sharon a ocupar. Quem for removido à força poderá perder até um terço da ajuda financeira oficial.

Para Sharon, a retirada de Gaza ''é um passo doloroso mas essencial para o futuro do país''. O premier insistiu que não poderia manter tropas na região e prometeu apoio aos deslocados:

- A responsabilidade pesou sobre mim - afirmou. - Acreditem que a dor que me causa é tão intensa como minha convicção de sua necessidade.

O premier falou num futuro de paz, respeito mútuo e amor, pedindo o fim dos grupos extremistas palestinos para que sejam retomadas as negociações de paz após a retirada de Gaza. Os militantes, no entanto, recusam-se a baixar armas até que Israel desocupe toda a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, onde palestinos sonham instalar a capital de seu futuro Estado.

Já o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, disse que a iniciativa é ''histórica'', mas trata-se de ''um primeiro passo''.