Título: Negligência por trás do desastre
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 16/08/2005, Internacional, p. A9
Autoridades cipriotas fizeram buscas ontem nos escritórios da Helios Airways em busca de indícios de negligência da responsável pelo Boeing 737 que caiu na Grécia no do mingo, matando 121 pessoas. Os investigadores querem encontrar todos os registros de manutenção da aeronave e confirmar relatos de que, meia-hora antes de decolar, o piloto teria informado ao aeroporto de Larnaca problemas no sistema de ar-condicionado, falha que já teria sido registrada na mesma aeronave antes. Se comprovada a informação, a decolagem foi autorizada mesmo com um problema diretamente ligado à provável causa do acidente.
Segundo as investigações iniciais, o avião caiu devido à despressurização em seu interior. Quando isso acontece, as conseqüências imediatas são a falta de oxigênio e queda de temperatura - que estaria próxima dos 50 graus negativos, equivalente ao ambiente a 10 mil metros de altura. O elo, no caso do 737 da Helios, é que um único sistema no avião é o responsável pela manutenção da temperatura e pressão a bordo. Portanto, um defeito no ar-condicionado já era indício de que poderia haver problemas de despressurização. Há, ainda, informações de que um jato da mesma empresa já teve de fazer pouso de emergência em Larnaca. O motivo foi o mesmo.
As autoridades cipriotas também querem ouvir várias pessoas que vieram a público ontem para relatar rotineiras variações de temperatura em vôos da Helios. E contam agora com as informações da caixa preta da aeoronave e do registro dos diálogos dos pilotos, que serão analisados por técnicos franceses.
Quanto ao trabalho nos destroços e a autópsia nos primeiros corpos, as autoridades ainda têm várias perguntas a ser respondidas. Nas primeiras horas após o acidente, foi dito que os passageiros estavam congelados antes do choque. Exames nos primeiros seis corpos, no entanto, comprovaram que a queda que os matou. A avaliação do presidente da Associação de Pilotos da Varig, comandante Rodrigo Marocco, piloto 737 por 13 anos, também derruba a tese de congelamento. Ele explica que, considerando a hipótese de despressurização, a falta de oxigênio mataria antes da baixa temperatura.
Também foi identificada a pessoa vista na cabine por pilotos de caças F-16, que emparelharam com Boeing quando o contato por rádio se perdeu. Povavelmente era o comissário de bordo Andreas Prodromou, 25 anos. Piloto formado e qualificado para o 737, havia aceitado na última hora trabalhar como comissário porque estava desempregado. Segundo o avô, ele deveria estar tentando assumir o controle do avião, mas não conseguiu. A namorada de Andreas era comissária no mesmo vôo.
Cada família deverá receber indenização de US$ 16 mil, segundo informou o presidente da Helios, Andreas Drakos. O executivo garantiu que o avião foi submetido a um rigoroso processo de checagem antes de decolar. Spiros Vutas, que disse, no domingo, ter recebido de um passageiro, seu primo, mensagem de celular com detalhes do drama a bordo, foi preso depois de admitir tem mentido.