Título: Agosto sombrio paira sobre o planalto
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/08/2005, País, p. A3

Todos sabem como começa uma CPI, mas ninguém sabe como termina. O ditado, que costuma circular entre os políticos, é encampado por estudiosos que não ousam prognosticar para onde vai caminhar a crise nesse agourento mês de agosto. Enquanto sobe o tom do clamor de algumas vozes da oposição pelo impeachment, outras, mais ponderadas, temem cenários há meses inimagináveis, como a subida ao poder de Severino Cavalcanti, diante do eventual comprometimento do vice-presidente José Alencar, em face da delicada situação do seu partido, o PL. Um outro temor é o de que a derrubada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa transformá-lo, aos olhos do povo, em vítima inocente das maldosas elites. Em agosto de 1954, Getúlio Vargas não se rendeu à pressão da direita liderada por Carlos Lacerda, apoiado pelos militares. O suicídio, no dia 24, adiou por 10 anos o golpe que já era tramado e deu base suficiente para que aliança PSD-PTB, personificada por Juscelino, chegasse ao Planalto, na eleição seguinte. A diferença entre os panoramas de 54 e o atual ¿ como lembra o cientista político Marcus Figueiredo ¿ é que hoje não existe a ¿elite reacionária e golpísta¿ como a da época, pregando a destituição violenta do presidente. Ao contrário, os opositores têm se mostrado comedidos e dispostos a defender a estabilidade democrática. Uma outra diferença: a reação popular depois do suicídio de Vargas era sustentada em uma rede sindical bem mais forte e organizada, se confrontada com a que hoje se disporia a virar o jogo nas ruas. Isso sem falar na grande massa, simpática ao ¿bom velhinho¿, introdutor das leis trabalhistas. Lula ¿ prossegue Figueiredo ¿ tem cometido erros sucessivos ao reagir às denúncias, aumentando a decepção dos milhares de militantes do PT ¿que dificilmente se disporiam a ir para a rua defendê-lo¿. Quanto a Jânio Quadros, a renúncia de 25 de agosto de 1961 não passou de manobra desastrada. O presidente invocou as ¿forças ocultas¿ e tentou arquitetar um golpe para obter mais poderes. ¿Pensou que voltaria nos braços do povo mas deu tudo errado¿, lembra Figueiredo.

Para os supersticiosos, um outro lembrete sobre o mês mais temido pelos políticos: foi em 26 de agosto de 1992 que a CPI que investigava Collor aprovou o relatório propondo o impeachment do presidente.