Título: A Hora da Faxina
Autor: Mariana Carneiro e Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 14/08/2005, Economia & Negócios, p. A17
O governo prepara um pacote de mudanças com a intenção de colocar em prática o esperado choque na gestão na Previdência Social. Encabeçado por um homem auto-denominado com ¿sangue fazendário e cabeça de planejamento¿, Nelson Machado, o ministério passará por uma reformulação e ganhará uma nova cadeia de comando. Em entrevista ao Jornal do Brasil, Machado adiantou que os gerentes-executivos ¿ 102 em todo o país ¿ passarão por avaliações periódicas. ¿ Os bons gerentes serão premiados, os que não renderem serão afastados das funções ¿ avisa.
Entre os quesitos avaliados, estarão o tamanho das filas nas portas das agências e o número de benefícios concedidos.
Para garantir o controle operacional sobre a estrutura extremamente capilar e difusa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Machado vai extinguir as superintendências ¿ de função mais política e de comunicação ¿ e substitui-las por gerências regionais, menos numerosas e mais ativas em questões organizacionais, como compra de material e escolha de pontos de reforço na atuação. Toda essa cadeia ficará sob responsabilidade da diretoria de atendimento, conforme adiantou o presidente do INSS, Waldir Moysés.
¿ O INSS tem uma estrutura organizacional muito frágil, este é o grande problema. Eu não tenho uma linha de comando para chegar na ponta, na agência. ¿ justifica o ministro, avisando que as novas funções serão técnicas. ¿ Se eu puder usar os quadros do INSS, tudo bem. Senão, trago profissionais de fora. Preciso de gerentes.
E, embora trabalhe com horizonte de um ano e quatro meses de atuação na pasta, não pensa em indicações políticas.
¿ Até agora não me foi pedida nenhuma nomeação.
Machado assumiu o Ministério da Previdência em meio a intensa turbulência. O comando de greve invadiu o gabinete poucos dias depois de sua posse. E espera-se que mostre resultados imediatos do anunciado choque de gestão.
¿ Não tenho promessas, tenho uma missão. O presidente Lula pediu que eu conduzisse o ministério com extremo profissionalismo e que tivesse dois focos: melhorar o atendimento nos postos e combater as fraudes no sistema. Estou colocando toda a organização centrada nesses dois esforços ¿ disse.
A decisão da última semana, de estipular prazo determinado para o auxílio-doença, foi, segundo diz, o primeiro passo para combater as filas que se alongam em cada posto do INSS, evitando a procura de perícias médicas. Mesmo assim, ainda é preciso reduzir a despesa com o benefício, que saltou de R$ 2 bilhões para R$ 9 bilhões anuais em quatro anos.
¿ Agora temos problemas internos a resolver. O sistema informatizado precisa de investimento. Outro dia mesmo um técnico me relatou que estamos com 100% da capacidade de internet em uso. Baixei uma portaria limitando o acesso à rede nos postos. Agora, vamos fortalecer a Dataprev. Ela será uma grande empresa de processamento de dados ¿ promete.
Um grupo de trabalho foi montado, segundo Machado, para elencar as vulnerabilidades da Previdência.
¿ Criou-se uma visão de que há um desperdício brutal na Previdência e que, se fosse resolvido, não teríamos problemas. Se as fraudes forem de 10%, serão R$ 14 bilhões só neste ano, mais do que os investimentos do governo. Para combater fraudes, é necessário melhorar o atendimento. Tenho a convicção de que a fraude começa na fila, com quem vende o lugar, e depois explode no balcão, onde se vendem aposentadorias ¿ diz.
Amanhã, as experiências internacionais na Previdência Social