Título: Famílias de vítimas se organizam
Autor: Rodrigo Vasconcelos
Fonte: Jornal do Brasil, 14/08/2005, Brasília, p. D4

Pais e familiares de vítimas da violência não se contentam em esperar a conclusão dos inquéritos pela polícia e por soluções definitivas para os problemas de segurança pública, que parecem nunca vir. Buscam força, de onde achavam que nunca mais fossem ter, para tomar uma atitude contra a violência e a falta de segurança. É o caso dos pais, familiares e amigos de vítimas da violência que, em março de 1999, fundaram a ONG Convive (Comitê Nacional das Vítimas de Violência), de que participam atualmente cerca de 42 famílias.

Para Creuza Marra de Paula, 59 anos, técnica em contabilidade, o Convive foi o espaço que ela não teve há quase 11 anos, quando perdeu o filho Renato Marra de Paula, então com 20 anos, estudante de economia.

- Eu queria gritar, berrar, chamar a atenção de todo mundo para a dor que eu estava sentindo, mas ninguém parecia se importar. No Convive, as famílias ouvem, entendem e apoiam umas às outras, porque todas passaram pelo mesmo sofrimento. Aliás, passam, porque a dor de perder um filho nunca acaba, mas ameniza com o tempo - contou Creuza Marra, que sempre se emociona ao falar do filho.

O presidente do Sindicato dos Donos de Postos de Gasolina do DF (Sinpetro), José Carlos Ulhôa, também acha que não se pode mais cruzar os braços e esperar.

- Basta. É hora de lutar para que outros não venham a passar pela mesma dor que estou sentido. Vamos elaborar uma estratégia para pressionar o governo a investir mais em educação, saúde e segurança para evitar que a carência desses itens venha a produzir outros animais como os que mataram o meu filho - disse o empresário na sexta-feira, dia em que foi celebrada a missa de sétimo dia do filho Rodrigo Fonseca.

O rapaz de 28 anos foi morto com três tiros à queima-roupa depois de salvar a namorada de um estupro. A polícia alega que não divulga informações sobre o caso para não atrapalhar as investigações.