Título: Menos apuração, mais impunidade
Autor: Rodrigo Vasconcelos
Fonte: Jornal do Brasil, 14/08/2005, Brasília, p. D4

Era dia de jogo da Seleção Brasileira contra o Chile na Copa da França, em 1998. No dia 26 de junho daquele ano, Thiago Chagas Felipe, 15 anos, havia acabado de voltar de uma gincana no Colégio Cor Jesu, na 615 Sul, organizada pelos alunos da 8ª série com o objetivo de levantar dinheiro para a formatura do Ensino Fundamental. Estava com o amigo Ricardo [nome fictício]embaixo do bloco onde mora, na 414 Sul. Por volta de meio-dia, o pai de Thiago, Manoel Cipriano, 74, militar da reserva, lavava o carro da família, quando ouviu o que pensou ser o barulho de fogos de artifício em comemoração de um gol do Brasil.

Thiago e o amigo foram abordados embaixo do bloco por dois rapazes, um deles armado, pediu o boné e o relógio de Thiago. O garoto se negou a entregá-los. O rapaz tomou o boné à força. Thiago o pegou de volta e levou tiros à queima-roupa na cabeça. Os fogos de artifício que seu Manoel pensou ter ouvido. Só percebeu o filho estirado no chão depois de ouvir os gritos de Ricardo.

O crime, que completou sete anos no último dia 26 de junho, está até hoje sem solução, em boa parte por culpa da própria polícia.

- Os policiais levaram o garoto até um acampamento perto da Telebrasília para fazer o reconhecimento de dois suspeitos. Expuseram o garoto de maneira tão explícita que, no dia seguinte, a família dele se mudou para Recife - conta Kleber Raniere, 33 anos, policial e irmão de Thiago Chagas Felipe.

A Polícia chegou a levar uma fita gravada com a imagem de outros suspeitos a Recife para que o garoto fizesse a identificação, mas sem sucesso. Ricardo chorou, mas não disse uma palavra. O estrago estava feito.

Mas o caso de Thiago não é o único sem solução. Estudo do TCDF, que analisou ocorrências registradas pela Polícia Civil entre os anos 2000 e 2003, mostrou que, enquanto no primeiro ano o índice de instauração de inquéritos policiais em relação ao número de casos de homicídio relatados foi de 83,8%, em 2003, esse índice despencou para cerca de 58%.

A Polícia costumava divulgar um índice de cerca de 72% de casos solucionados. O TCDF investigou de que forma o índice teria sido calculado, mas não obteve dados suficientes para confirmar a veracidade do dado.

Enquanto isso, Kleber Raniere espera por uma solução para o caso do irmão morto há sete anos.

- O caso já saiu da 1ª DP e foi para a Delegacia de Policia Especializada. Da última vez que entraram em contato conosco, há cerca de dois meses, disseram que continuavam a investigar o caso. Mas já perdemos a esperança de ver preso o responsável por um crime tão bárbaro - disse Kleber Raniere.