Título: Lula quer ''solução definitiva''
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/10/2004, País, p. A-5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem ao jornalista Paulo Markun que pretende encontrar ''uma solução definitiva e tranqüila'' logo após o segundo turno das eleições municipais, em relação à revelação de documentos secretos, em poder do Executivo.

A intenção do presidente é separar a documentação em duas categorias. Na primeira, ficariam os documentos de Estado, que segundo Lula, ''seriam os relativos ao Itamaraty e a decisões de governo''. Essa parte continuaria tendo a divulgação proibida.

A outra categoria é formada pelos textos, fotografias e documentos que foram produzidos pela comunidade de informação, durante o período da ditadura militar, e que estão preservados, por 50 anos, por força de um decreto assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

- O presidente disse que essa documentação, da comunidade de informação, seria transferida para o Ministério da Justiça, que, juntamente com a igreja e as famílias interessadas, dariam um destino definitivo para esses papéis. Muitas vezes eles não valem ser mantidos em sigilo, como é o caso de fotos extremamente comprometedoras - revelou Markun.

O presidente, contudo, acredita que ''grande parte da documentação'' já teria sido destruída e revelou ao jornalista que essa era uma prática comum na época em que Lula dirigia o Sindicato dos Metalúrgicos.

- Toda vez que havia uma ameaça de intervenção, a primeira coisa que a gente fazia era queimar e jogar fora todos os documentos que pudessem nos comprometer. O Exército ou setores que tiveram atuação irregular certamente já tiveram tempo para fazer isso - acredita o presidente.

Markun esteve no Planalto para entregar a Lula seu livro O Sapo e o Príncipe, onde conta a história de dois personagens que chegaram ao poder, não sem antes militarem juntos contra a ditadura. O primeiro, Fernando Henrique Cardoso, um sociólogo que estudou em Paris. O segundo, Luiz Inácio Lula da Silva, um retirante nordestino.

A foto da capa, de autoria de Clóvis Cranchi Sobrinho, retrata Fernando Henrique em campanha para ocupar uma cadeira no Senado Federal, em 1978. Ele está ao lado de Lula, que veste camisa listrada, com mangas arregaçadas, ambos andando pelas ruas do ABC Paulista, carregando jornais.

Paulo Markun contou que Lula brincou com a foto , afirmando que, ''até na foto'', aparece, ''carregando jornais para Fernando Henrique''.

Na dedicatória, Paulo Markun escreveu: ''Ao presidente Lula que é protagonista dessa lenda real que é a sua transformação em príncipe''.