Título: Viúva de Wladimir Herzog volta atrás
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 29/10/2004, País, p. A-5

Clarice Herzog afirma que nenhuma das fotos publicadas nos jornais é do seu marido

BRASÍLIA - Depois de ter reconhecido o marido em pelo menos uma das fotos em poder da Comissão de Direitos Humanos, a viúva do jornalista Wladimir Herzog, Clarice Herzog, voltou atrás. Em nota divulgada ontem, o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, disse que depois de analisar toda a seqüência de fotos em sua residência em São Paulo, Clarice chegou à conclusão de que nenhuma daquelas fotos, inclusive as que foram publicadas pela imprensa nos últimos dias, retratava seu marido Wladimir Herzog.

A seqüência de fotos do jornalista, resultado de uma investigação ilegal conduzida no ano de 1974 pelo extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), foi examinada na tarde de ontem por Clarice em companhia do ministro Nilmário Miranda e do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix. Os registros foram levados à viúva de Wladimir Herzog a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse a nota.

Algumas das fotos que compõem a documentação foram publicadas pela imprensa nos últimos dias e identificadas pelo jornal Correio Braziliense como se fossem do jornalista Vladimir Herzog, morto pela repressão em 1975.

A polêmica a respeito da abertura dos documentos do regime militar, no entanto, ainda permanece. Ontem, foi a vez da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pedir a abertura parcial dos arquivos da ditadura militar:

- Os familiares que foram prejudicados merecem justiça e têm direito a um julgamento justo - afirmou o presidente da CNBB, Dom Geraldo Majella Agnelo em entrevista coletiva na sede da entidade em Brasília.

A CNBB também divulgou uma nota em que elogia a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em revogar a liminar permitindo o aborto dos bebês anencéfalos:

- A decisão foi uma medida sábia. O embrião já formado é um embrião humano. Respeitamos um processo natural sem a intervenção humana - ponderou Dom Geraldo Majella.

O ministro da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem, após almoçar na Granja do Torto, que a abertura dos arquivos da ditadura militar só será discutida pelo governo depois das eleições e do feriado de Finados.

- Não será feito nada no canetaço - disse.