Título: Arafat será transferido para Paris
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/10/2004, Internacional, p. A-9

Líder palestino reapareceu ontem, mas médicos suspeitam que esteja sofrendo de leucemia

AFP Apesar de abatido e amparado, o líder palestino apareceu sorridente nas imagens

RAMALA - Seriamente doente, o presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, deve ser levado hoje da Cisjordânia para Paris, onde será internado para um tratamento intensivo. Segundo a junta de médicos egípicios, tunisianos, palestinos e jordanianos que o examinou, o líder da ANP está sofrendo de um problema nas células sangüineas que pode ser sinal de leucemia ou de outro tipo de câncer. A gravidade do quadro suscitou temores de que Arafat não sobreviva.

Sintomaticamente, segundo oficiais mais próximos a transferência para o exterior só foi aceita depois de o governo de Israel ter concordado em permitir que Arafat possa voltar à Cisjordânia depois de se recuperar. O pedido foi feito pelo primeiro-ministro palestino Ahmed Qorei ao premier Ariel Sharon. Desde que passou a ser confinado na Muqata, o QG da Autoridade Palestina, em 2001, o palestino, hoje com 75 anos, sempre ouviu das autoridades de Tel Aviv que sua eventual partida implicaria na imediata proibição de retorno.

Um alto assessor disse à agência Reuters que a suspeita mais forte dos médicos recai sobre a leucemia, mas que a avaliação ainda não é unânime. Ao todo, a junta tem 15 profissionais. Um deles chegou a comentar que as suspeitas aumentaram depois que exames de sangue detectaram uma baixa quantidade de plaquetas, o que pode ser um sintoma da leucemia e eventualmente acarreta hemorragias internas. Mas outros desdenharam.

- A condição dele é boa. O moral também está alto - despistou o cirurgião jordaniano Asraf al-Kurdi.

Depois de mais de duas semanas sem aparecer, Yasser Arafat deixou-se filmar, ontem, ao lado de parentes. De pijamas e vestindo um gorro no lugar do tradicional kefyiah, ele apareceu muito magro e abatido, embora sorridente e brincando com os médicos. Em vários momentos se nota que estava amparado nas imagens.

A mulher dele, Suha, também aparece no filme. Vivendo em Paris desde 2000, quando começou a atual Intifada, ela chegou ontem para acompanhá-lo na viagem de volta.

Um dos sobrinhos do líder, o chefe de segurança Musa Arafat, contou que o presidente ''tinha comido cornflakes no café da manhã e conseguia ir por conta própria ao banheiro''. Outros disseram que Arafat pode fazer as preces matinais sem precisar de ajuda.

O governo francês aceitou o pedido do tratamento, segundo um porta-voz, e se encarregou de enviar um avião para fazer o transporte. Helicópteros do governo jordaniano levarão Arafat e sua comitiva para Amã, de onde todos seguirão para Paris.

O ex-guerrilheiro, amado pelo seu povo e odiado pela maioria dos israelenses, vinha sofrendo de fortes dores no estômago há uma semana. Seu estado piorou dramaticamente na quarta-feira, quando sofreu um colapso e ficou inconsciente.

A doença despertou temores de que o afastamento gere o descontrole total entre os palestinos depois de 4 anos de revolta. Sua morte eventual retiraria do processo de paz no Oriente Médio um elemento visto por Tel Aviv e pelos Estados Unidos como um obstáculo. Segundo um dos seus assessores, ele não pretende nomear ninguém para substituí-lo na presidência da ANP enquanto estiver em tratamento.

- Não há vácuo de poder. A Autoridade Palestina continuará sendo exercida da mesma forma como está sendo até agora - afirmou Abu Rdainah.

Nos círculos mais afastados, no entanto, já se discute a possibilidade de sucessão. Um dos cenários prevê que o porta voz do Parlamento palestino, Rawhi Fattouh substitua Arafat interinamente por 60 dias enquanto são preparadas novas eleições. Em Washington, falando pelo Departamento d Estado, o assessor Richard Boucher disser que esperava que o líder palestino pudesse receber o tratamento que necessita. Mas se recusou a responder se desejaria o pronto restabelecimento de Arafat.