Título: Vigilante disputará comando do PT
Autor: Rosane Garcia
Fonte: Jornal do Brasil, 15/08/2005, Brasília, p. D1

As correntes do Campo Majoritário - Mais PT, Movimento PT e Articulação - e os independentes, na tarde de sábado, fecharam questão em torno do nome do deputado distrital Chico Vigilante para suceder Vilmar Lacerda na presidência do partido no Distrito Federal. Na avaliação do distrital, essas correntes representam mais de 60% dos 18 mil filiados do PT na capital da República. - Vamos ver se é isso mesmo - diz a distrital Arlete Sampaio, do bloco de esquerda, que atribui ao Campo Majoritário a crise em que o partido mergulhou e para quem o PT precisa passar por uma renovação.

Para Érika Kokay, não foi o Campo Majoritário que empurrou o PT para essa conjuntura adversa. Segundo ela, é preciso fazer claramente essa distinção, pois as ilicitudes praticadas por um pequeno grupo da direção nacional do partido eram desconhecidas da maioria, cujos princípios éticos trafegam em sentido contrário ao que veio à tona com o escândalo do mensalão.

Apesar de admitir que há divergências internas, Kokay, defensora da candidatura de Chico Vigilante ao comando local do PT, acha que o ideal seria chegar às eleições de 18 de setembro com uma chapa única e com o objetivo exclusivo de reconstrução do partido.

- Temos compreensão de que a crise jogou todos, militantes e parlamentares, na tristeza e na perplexidade. Mas precisamos superar esses sentimentos, resgatar o PT e deixar claro que foi apenas um pequeno grupo que se curvou às práticas existente há décadas no País e das quais nunca compactuamos - afirmou Érika Kokay, adiantando que hoje, no final da tarde, haverá uma nova reunião da coordenação da candidatura de Vigilante.

O deputado Chico Vigilante está convicto de que, se eleito para presidir o PT-DF, será um desafio na sua carreira política. A primeira batalha que ele se impõe é evitar a saída de integrantes do partido.

- Quem está saindo é por oportunismo eleitoreiro. Estão buscando legendas que em nada diferem do PT e que na questão ética não têm a mesma tradição do PT - afirma Vigilante, numa ofensiva direta ao senador Cristovam Buarque que, sexta-feira última, anunciou a intenção de deixar o PT.

De acordo com Vigilante, trata-se de um comportamento esquizofrênico, levar 25 anos para chegar ao poder e, depois, sair para a oposição.

É muito fácil criticar. Quero ver é construir - desafia o petista, lembrando que em política a palavra dada é muito importante.

Ele recordou que o senador Cristovam Buarque, por diversas vezes, disse que quando morresse o seu caixão estaria envolto na bandeira do PT. Mas, no entanto, anunciou sexta-feira que pretende deixar o partido hoje.

Vigilante lembrou ainda que embora pareça ser um sacrifício tentar assumir a direção do partido neste momento de crise, ele já está acostumado. Em 1994, foi eleito deputado, sendo o mais votado no DF e, proporcionalmente, no Brasil. Quatro anos depois, diante a crise local, saiu em defesa do governo Cristovam e acabou sendo derrotado na sua campanha à reeleição.

- O que eu queria é que o Cristovam fizesse o mesmo com o Lula e não fosse tão mal-agradecido - afirmou Chico Vigilante, sem meias palavras para expressar a sua mágoa em relação ao senador.

No comando do PT-DF, Vigilante pretende ter uma gestão afinada com a da direção nacional do partido. Ele acredita que o atual presidente Tarso Genro será reeleito para fazer uma ''refundação'' do PT, com humildade e preocupado em resgastar os valores éticos do partido. Essa reconstrução passa, na opinião de Vigilante e de Érika Kokay, por um reencontro com os movimentos sociais, para a retomada do projeto político que, nos últimos dois anos e meio de governo Lula, conseguiu interromper o ciclo de consolidação das propostas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, qualificadas de neoliberal.