Título: Lula: Estão querendo jogar corrupção dentro do Planalto
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 18/08/2005, País, p. A2
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em Vitória da Conquista (BA), que está com a ''consciência limpa'' em relação à crise e ''muito mais aberto do que coração de mãe'', em um discurso repleto de referências às relações familiares. Enfatizou também que sabe dos ''objetivos'' dessa crise política e tem conhecimento de que muitas pessoas querem envolvê-lo nas denúncias de corrupção, sem especificar. Lula não informou, porém, quem seriam nem qual seria a intenção delas em tentar envolvê-lo nas acusações. Lula afirmou ainda que ocupar o cargo de presidente da República o impede de dizer tudo o que pensa.
- Sou um homem tranqüilo, porque tenho a minha consciência limpa. E não são poucos os que querem jogar para dentro do Palácio algum erro, algum processo de corrupção.
Aplaudido por cerca de 3 mil pessoas que acompanhavam o discurso de improviso no assentamento Amaralina, afirmou:
- Estou mais aberto do que coração de mãe. Não tem nada mais maleável e sensível do que coração de mãe.
Lula reconheceu, entretanto, que às vezes se irrita, mas que não pode se comportar como ''qualquer cidadão'', que ''pode ficar nervoso, pode xingar''. Lula disse que a primeira-dama, Marisa Letícia, no palanque ao seu lado, é quem o recomenda a ''contar até dez'' quando vai perder a calma.
Outro motivo para não falar o que pensa, disse, é que ''o povo não gosta de presidente que fica gritando'':
- O povo quer um presidente que converse com ele, com a tranqüilidade que uma mãe conversa com seu filho.
Lula reafirmou sua crença em Deus e disse que nunca teve certeza de que seria fácil administrar o país e que não enfrentaria problemas no governo.
- Sei que tem problemas e podem surgir muitos outros.
O presidente negou interferência nas investigações sobre as denúncias de corrupção e voltou a defender a punição dos culpados. Disse que não tem poder para punir os suspeitos e que ''o máximo'' que pode fazer é afastá-los de seus cargos públicos. E afirmou que vai continuar a ''andar no meio do povo'' durante suas viagens. Aproveitou para criticar o antecessor:
- Pode ter presidente que deixa a Presidência e vai morar em Paris. Eu não tenho para onde ir, a não ser ao encontro deste povo extraordinário que há mais de 30 anos constrói o que nós conquistamos hoje.
Cerca de meia hora depois do fim da cerimônia, o presidente quebrou o protocolo e foi até a cerca onde aproximadamente cem pessoas o chamavam. Ele distribuiu apertos de mão, deu autógrafos e ouviu reivindicações.
Na cidade, o presidente liberou recursos para rodovias, inaugurou obras de eletrificação rural no assentamento - que tem 249 casas - e comemorou o atendimento de 1,3 milhão de pessoas pelo programa federal ''Luz para Todos''.
Ao ligar simbolicamente o interruptor que acionava oito lâmpadas instaladas em frente ao palco, houve um momento de apreensão. Uma sirene tocou, mas as lâmpadas demoraram para acender.
- Esta luz demorou para acender porque veio para ficar. A que acende rápido dura mil horas. Essa dura 13 mil horas - justificou o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau.