Título: PT admite erros tarde demais
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 18/08/2005, País, p. A3

O PT divulgou ontem uma nota em que pede desculpas à nação por atos que os ''comprometem, moral e politicamente perante os brasileiros'' e na qual se compromete a '' defender'' o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em quem o partido manifesta sua total confiança. Os termos do documento, aprovado anteontem durante reunião da executiva nacional do partido, em Brasília, foram costurados diretamente com o Planalto e fazem parte da estratégia palaciana de tentar descolar o presidente Lula do PT a fim de afastá-lo do olho do furacão da crise. Na semana passada, Lula deu a senha ao afirmar que o governo e o PT precisavam pedir desculpas pelos erros cometidos.

Na nota, o PT diz ainda que quando o partido tiver um ''quadro completo das responsabilidades, como as já assumidas pelo nosso ex-tesoureiro Delúbio Soares, elas serão amplamente divulgadas à sociedade brasileira''. Hoje, segundo o documento, o PT estaria ''recompondo'' a vida interna, ''reorganizando'' as estruturas administrativas e ''procurando responder à crise política para defender a continuidade com normalidade do governo Lula''.

A proposta da ala esquerda pedindo abertura de processo disciplinar na comissão de ética do partido, além de suspensão dos parlamentares por 60 dias, no entanto, não foi levada em consideração. A executiva do PT decidiu não punir os deputados acusados de suposto envolvimento com o mensalão. O fato revoltou parlamentares de oposição e da esquerda petista que classificaram a nota de ontem como inócua.

- O documento, mais uma vez, teve a influência do campo majoritário. Neste momento, para salvar o PT, a única saída é comissão de ética e medidas cautelares contra os acusados - protestou o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).

O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) classificou como ''vergonhosa'' a carta do direção petista. O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), lembrou que o PT é o eixo central do maior esquema de corrupção já montado no país.

- Todos os manipuladores destes recursos escusos faziam parte da direção petista ou estavam instalados nos altos cargos do Executivo. Até o momento, o PT sequer dignou-se a expulsá-los. Não adianta pedir desculpas - ironizou o tucano.

A esquerda petista não tem mais disposição para reclamar. O deputado Walter Pinheiro (PT-BA) acredita que já existe uma pré-disposição da direção da legenda para desanimar os dissidentes. Ele avisou aos seus companheiros de bancada que não assina mais documentos pedindo providências para a Executiva e para o Diretório.

O senador Aloizio Mercadante articula com o presidente do PT, Tarso Genro, a formação de uma nova chapa para disputar a presidência da legenda. A negociação abrange a possibilidade do afastamento dos petistas supostamente envolvidos no escândalo do mensalão. O afastamento também envolveria o deputado José Dirceu (PT-SP), considerado a eminência parda do partido. Em nota, Dirceu responde que não pretende ''renunciar à candidatura na chapa do campo majoritário ao diretório nacional do PT''.