Título: O show dos baderneiros
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 18/08/2005, Opinião, p. A10

A série de depoimentos nas comissões de inquérito no Congresso tem revelado muito mais do que o mal cheiro exalado nos porões do poder. Entre integrantes das CPIs, curiosos e espectadores autorizados, muitos parlamentares têm dado um show vergonhoso em cadeia nacional: revelam-se exemplos de má educação. As cenas se repetem com exasperante renitência, capazes de provocar justificáveis constrangimentos. Conversas ao telefone, bocejos, perguntas excessivas, questionamentos inconvenientes, solicitações disparatadas, entre outras idiossincrasias, têm adornado o palco grotesco de exibicionismo e insensatez parlamentar e, assim, prejudicado o andamento dos trabalhos. Conjugam-se com a perigosa sede de novidades e a guerra santa instituída para falar muito mais aos eleitores via tevê e muito menos buscar o esclarecimento das pesadas denúncias em curso e dos inúmeros episódios ainda nebulosos.

Tudo somado, é constrangedor ouvir que, em muitos casos, o principal personagem é o toque da campanhia do presidente, pedindo silêncio aos representantes da má educação. No depoimento do publicitário Duda Mendonça, a cada dois minutos o senador Delcídio Amaral revelava incredulidade por ter de controlar os baderneiros e barulhentos. Tais episódios revelam algo de muito errado no andamento das comissões, já escancarado pela contraproducente carga de 12 a 14 horas de trabalho praticamente ininterrupto.

Este não é o espetáculo que os brasileiros esperam. O país deseja, sim, ver lancetados os tumores da corrupção espalhada por todos os níveis do poder. É fato que, aos poucos, vai ficando mais claro um esquema inédito de controle dos negócios do Estado. É lamentável, no entanto, que na brigada dos soldados incumbidos de executar os moribundos no campo de batalha, malcriados deselegantes engrossem a fileira dos que ajudam a tumultuar o ambiente e atravancar as investigações.