Título: Agora a culpa é da crise política
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/08/2005, Economia & Negócios, p. A19

Os quatro meses consecutivos de deflação não foram suficientes para convencer o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a reduzir a taxa básica (Selic), hoje em 19,75% ao ano, patamar mais alto do planeta. A decisão frustrou empresários, sindicalistas e parte do mercado financeiro, que já apostava numa queda de pelo menos 0,25 ponto percentual, como um sinal de que a trajetória de baixa começaria a ser retomada.

A taxa está neste nível desde maio. Não foi apresentada qualquer justificativa para a decisão. Os diretores do BC repetiram, em nota, o mantra usado na manutenção dos juros no mês passado: ''Avaliando as perspectivas para a trajetória da inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic''.

Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management, afirmou que a decisão era esperada por 80% dos analistas de mercado devido às elevadas cotações do petróleo e à crise política, que tem potencial de provocar turbulências como a derrota do governo na votação do salário mínimo no Congresso, semana passada. Para o gestor, no entanto, a Selic deve começar a cair em setembro.

A Confederação Nacional da Indústria qualificou de ''decepcionante'' a decisão do Copom, que eleva os juros reais (descontada a inflação para os próximos 12 meses) de 13% para 14%.

''A manutenção da taxa Selic no nível atual não é uma ação passiva da política monetária'', critica a CNI, em nota. ''Significa, na prática, um endurecimento da política monetária em um momento em que se justificaria um abrandamento.''

A Federação das Indústrias do Estado do Rio considerou ''ilógica'' a manutenção da Selic. ''Esta decisão só trará conseqüências negativas para o país, impondo custos fiscais elevados e menor crescimento a médio prazo''.

O teor da decisão só será conhecido na semana que vem. Analistas acreditam que o BC tenha se posicionado de forma excessivamente cautelosa para não ser acusado de agir como bombeiro na crise política e ter a credibilidade questionada.