Título: Comissão cobra auditoria no PT
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 18/08/2005, Brasília, p. D3

A Executiva Regional do Partido dos Trabalhadores poderá instaurar uma comissão de ética para apurar o repasse de recursos das contas do publicitário Marcos Valério para o pagamento de dívidas do partido. Ontem, a Comissão de Averiguação criada para levantar informações sobre o destino do dinheiro que entrou por meio de caixa 2 divulgou o relatório final. Além de sugerir que as investigações sejam aprofundados, a comissão apontou ainda a necessidade de que o Conselho Fiscal faça uma auditoria sobre as notas fiscais e documentos apresentados pelo presidente Wilmar Lacerda para tentar comprovar os pagamentos de dívidas acumuladas desde a campanha de 1998. O relatório foi encaminhado à Executiva e ao Diretório Regional. De acordo com decisão da Executiva Nacional, todas as investigações envolvendo dirigentes deverão ser feitas em uma Comissão Nacional de Sindicância. Mas, de acordo com Antônio Carlos de Andrade, o Toninho, integrante da Comissão de Averiguação, é possível que a comissão de ética seja instaurada. O próprio Wilmar disse ontem que colocará em votação na executiva a possibilidade de instauração de comissão de ética.

Durante depoimento à Comissão de Averiguação, Wilmar revelou ainda que, para liberar o dinheiro para começar a saldar as dívidas que chegavam a R$ 1 milhão, o então tesoureiro nacional, Delúbio Soares, pediu que o presidente regional consultasse outras duas pessoas para confirmar o débito: o ex-ministro-chefe da Casa Civil, Swedenberger Barbosa, coordenador-geral das campanhas majoritárias de 1998; e o atual presidente do Sindicato dos Bancários, Jacy Afonso, o tesoureiro.

Os dois confirmaram ontem ao JB que foram procurados por Wilmar Lacerda em 2001, assim que assumiu a presidência regional, para confirmar a existência das dívidas. Jacy admitiu que, na prestação de contas do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF), o partido não apresentou as dívidas da campanha majoritária, encabeçada por Cristovam Buarque, candidato à reeleição ao GDF.

- Foi um equívoco da nossa parte. Na época eu tive um acidente, fiquei 15 dias internado em Belo Horizonte. Mas entregamos ao PT-DF a relação das dívidas - disse Jacy, empurrando a responsabilidade para às direções anteriores a de Wilmar: os deputados distritais Chico Vigilante e Arlete Sampaio, além do deputado federal Wasny de Roure.

A entrada de dinheiro não declarado nas contas do partido é um dos pontos que, para Toninho, secretário-geral do partido, ainda deve ser esclarecido. Ele afirma que, como integrante da Executiva Regional, sempre soube da existência da dívida, mas nunca tomou conhecimento de valores.

- Estou absolutamente tranqüilo de que todo dinheiro que entrou aqui serviu para pagar dívidas do PT. Não contabilizar é um erro do passado. Não pagar pessoas que devíamos, também era um erro - justifica Wilmar, ressaltando que recebeu R$ 381 mil como caixa 2 por ordem de Delúbio.

Outra questão a ser explicada é a divergência entre os valores declarados pela diretora financeira da agência SMP&B, Simone Vasconcelos, e pelo vice-presidente do PT-DF, Raimundo Júnior. Simone afirmou à CPI dos Correio que repassou R$ 270 mil a Júnior, que confirma o saque, diretamente do Banco Rural, de R$ 100 mil.