Título: Prevenido como bom médico
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 18/08/2005, País, p. A2
A entrevista coletiva convocada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para um domingo, antes que a semana começasse com desagradáveis surpresas, sobretudo na área econômica, representou uma estratégia rápida e inteligente por parte do governo, segundo a opinião de especialistas. Funcionou como uma ''vacina'' - manobra muito usada no meio político e bem aprendida pelo PT.
- Provavelmente ele foi orientado a fazer o que chamamos de ''vacina''. O PT aprendeu a fazer isso, o que Lula não sabia fazer. Essa entrevista simplesmente jogou o destino dele para as mãos do presidente. Palocci virou um grande alvo - sentenciou o consultor em Marketing político Roberto Dal Piaz Rech.
Para o professor do programa de Pós Graduação em Ciências Políticas da UFRJ, Valter Duarte, se as denúncias contra o ministro da Fazenda forem provadas - o que ele acha difícil de acontecer - não terão efeito agora, pois as acusações se referem ao tempo em que Palocci estava na prefeitura de Ribeirão Preto e não no ministério. Não caracterizaria, portanto, nada que pudesse ser exigido por parte do presidente Lula, como o de afastar o ministro.
- Se ocorreu alguma coisa foi com o Palocci enquanto prefeito e não como ministro. Tudo que está acontecendo até agora é no âmbito do Legislativo. Acho muito difícil que a situação complique a vida do ministro. Só se as denúncias forem provadas, o que poderá pesar no histórico político de Palocci - afirmou Duarte.
Na opinião do cientista político da UFRJ, Aloizio Alves Filho, a denúncia do advogado Rogério Buratti, às vésperas do fim da semana, foi fundamental porque permitiu que o governo apagasse o incêndio sem que as bolsas iniciassem seus trabalhos com um cenário de crise.
- O governo, dessa vez, diferente de outras ocasiões, contra-atacou muito rápido - destacou Alves Filho, que comparou Palocci a um médico falando com um paciente.
- Ele está acostumado a ser explicativo para tranqüilizar os outros. Acredito que a conduta do ministro na entrevista deva-se, em parte, a sua personalidade e à vida política. Se fosse o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, não teria essa serenidade e não daria uma entrevista técnica, previsível - afirmou o especialista. Para ele, a cúpula do governo não está tomando nenhuma decisão improvisada nessa fase.
- Palocci se colocou como um ministro dedicado, de raiz petista. Ele chamou a atenção para erros na gestão, mas formou consenso de que acertou mais que errou quando citou os números otimistas do seu ministério - ressaltou.
Alves Filho avalia ainda que o governo está amplamente identificado com o ''arquétipo de Tiradentes''.
- Quando o presidente diz que foi traído e ninguém sabe quem traiu, se aproxima, de alguma forma do maior herói brasileiro, que morreu mártir, em um contexto de traição - comparou.