Título: Debate sobre a crise ganha as ruas
Autor: Rodrigo Aor
Fonte: Jornal do Brasil, 22/08/2005, País, p. A5
A crise gerada pelas denúncias de caixa dois e corrupção contra o governo e parlamentares transformou a política em assunto obrigatório nas rodas de bate-papo da cidade. Nas ruas, nas praias ou nos bares, as acusações, os depoimentos e os discursos merecem desde opiniões inflamadas a comentários irônicos e até piadas.
A decepção e a tristeza são, evidentemente, os sentimentos dominantes e dão origem a uma enorme apatia e descrença na classe política, traduzida, no entanto, de diversas formas pelo carioca. Há aqueles que defendem a reforma política, aqueles que pregam a renovação total do Congresso, os que acham que nada dará jeito na ''roubalheira'' e os que consideram a crise uma etapa do amadurecimento da democracia no Brasil e, por isso, absolutamente normal.
Eleitora de Lula, a assistente social Laila Calixto não depositaria sua confiança nos deputados e senadores que ocupam atualmente uma cadeira em Brasília.
- Todo mundo rouba. Não confio em políticos. A renovação total do Congresso pode mudar alguma coisa, mas não tenho muitas esperanças. Só não votaria nulo, porque o voto é um dever do cidadão, a única oportunidade de se manifestar e dizer que gosta do seu país - diz ela.
A estudante de Ciências Sociais e Psicologia Flora Moana considera a possibilidade de votar nulo caso o movimento tenha um embasamento teórico sólido e venha acompanhado de propostas concretas.
- Vejo um pouco de sensacionalismo e uso político das denúncias nessa crise. Há ótimos parlamentares, muita gente construindo, por isso, não vejo porque me recusar a votar neles. Espero poder votar mas, caso não encontre um bom candidato e o movimento pelo voto nulo tenha propostas por trás e seja coletivo, pode ser uma opção interessante - avalia Flora.
O comerciante Julio Reinoso se diz totalmente decepcionado com o presidente Lula e seu partido e se sente enganado.
- O Congresso eu já sabia que era o que é. Só alguns se salvam. Mas o PT nos enganou. Votei no Lula, mas PT e Lula nunca mais - afirma Julio, taxativo.
O engenheiro Clovis Donato, que votou em Lula pela primeira vez em 2002, também reclama. Para ele, o caixa dois de campanha não é uma exclusividade do PT, mas a expectativa sobre o partido era outra.
- Lula não fez o que prometeu. Achava que ele iria justamente combater a corrupção - conta, resignado.