Título: Gestão em choque: Recadastramento
Autor: Mariana Carneiro e Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 17/08/2005, Economia & Negócios, p. A17

Governo retoma censo de beneficiários do INSS, mas usa rede bancária para tentar evitar filas

O recadastramento dos beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) será reeditado. A nova versão da operação, que causa calafrios nos 23 milhões de segurados da Previdência, promete ser bastante diferente daquele que levou aposentados e pensionistas a enormes filas nas portas das agências em 2003 e provocou a queda do então ministro Ricardo Berzoini. O formato ensaiado em Brasília já foi batizado de recadastramento virtual e deverá ser operado através da rede bancária.

¿ As pessoas não têm que ir buscar o dinheiro no banco? Ali terão que atualizar o cadastro. Nada que atinja os aposentados ou os faça ir para filas ¿ adiantou o ministro da Previdência, Nelson Machado.

O governo ainda negocia com os bancos a forma como será feito o recadastramento. Em princípio, o mapeamento deverá dar conta dos 2,7 milhões de segurados que obtiveram o benefício antes de 1994, o que é considerado a parte mais frágil do cadastro do INSS, uma vez que nem todos os beneficiários apresentavam CPF para conseguir aposentadoria ou pensão.

Em novembro de 2003, o Jornal do Brasil estampou na sua primeira página uma fila de aposentados esperando horas para fazer o recadastramento. O constrangimento provocado foi tamanho que o governo voltou atrás e não concluiu o recolhimento de dados do INSS, hoje considerado fundamental para reduzir as fraudes no sistema previdenciário.

¿ O INSS quer saber se a pessoa que efetivamente recebe é quem tem direito ao benefício ¿ diz o superintendente técnico da Federação Nacional dos Bancos (Febraban), Jorge Higashiro. ¿ Vamos fazer nosso trabalho sem jamais deixar de lado o bem-estar do beneficiário.

A idéia é que toda a operação seja acertada para que o mapeamento comece em janeiro de 2006 e dure 90 dias. A segunda fase ¿ que contempla os demais 20,3 milhões de beneficiários ¿ deve ocorrer a partir de então e prosseguir até o fim do ano que vem.

¿ O INSS ficará com a responsabilidade sobre o recadastramento dos beneficiários mais idosos ou com deficiência física. Os bancos não têm pessoal especializado para ir à casa dos clientes da Previdência ¿ explica Higashiro.

A idade limite para ir a uma agência bancária ainda será estabelecida. Os bancos já têm know-how para fazer a renovação anual das senhas dos beneficiários e têm conhecimento da folha de pagamento de benefícios. São a interface mais próxima entre governo e beneficiários. A estratégia busca evitar ainda as filas humilhantes diante das agências do INSS.