Título: Uma disputa de aço
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 22/08/2005, Economia & Negócios, p. A17

A decisão da Volkswagen de importar 30 mil toneladas de aço plano para a produção de suas unidades brasileiras causou rebuliço no mercado siderúrgico, mas não deve se tornar tendência, dizem analistas do setor. Com as antigas ameaças das montadoras às siderúrgicas nacionais se tornando realidade, a expectativa dos especialistas é de que as produtoras brasileiras de aço mudem de estratégia e promovam um recuo nos preços.

- A queda de preços, somente de junho para cá, no mercado internacional foi da ordem de 30%. No mercado interno, no entanto, este recuo foi na média de 5% - comenta o consultor do ABN Amro, Pedro Galdi. A puxada para baixo nas cotações, explica ele, deveu-se à sobreoferta do produto no mundo.

Ele lembra que historicamente o preço do aço nacional sempre teve um prêmio superior ao do internacional. Isto porque a importação, além dos custos logísticos, também exigia gastos com as alíquotas. Mesmo com preços mais altos, o aço nacional ainda era mais barato.

- Com a queda do dólar e a alíquota zero para alguns tipos de aço, este cenário mudou e o produto internacional ficou mais atraente - conta o consultor.

O aço nacional, porém, não acompanhou a queda internacional. De acordo com Galdi, as siderúrgicas brasileiras optaram por manter os preços, fazendo pequenas reduções em negociações cliente a cliente.

- Reduzir preço pode significar mais dificuldade para depois voltar aos patamares anteriores - diz o consultor. Para Galdi, o nível de preços só deve voltar a subir no mercado internacional no quarto trimestre, em combinação com a baixa dos estoques mundiais.

É com base nesta recuperação de preços no exterior e, conseqüentemente, com o aço nacional voltando a ser competitivo, que Galdi acredita em uma interrupção do fluxo de importação. De mesma opinião é a diretora da MB Associados, Tereza Fernandez, que também vê a importação como pontual.

- Não podemos esquecer que, além da queda do dólar e conseqüentemente da receita, as siderúrgicas nacionais tiveram elevação em seus gastos, como a alta na tarifa de energia. Isto não permitiu que as empresas nacionais reduzissem mais seus preços - lembra Tereza.

Já para o consultor de mineração e siderurgia do Unibanco, Rodrigo Barros, a motivação da Volkswagen não foi financeira, visto que, conforme informou a montadora, a economia na operação foi de apenas 5%. Ele alerta que, ao contrário do que tem sido comentado, a empresa pode ter adquirido produtos fora da abrangência da alíquota zero, o que é o caso do aço galvanizado.

- A tarifa explicaria uma economia tão pequena - diz.

Na avaliação de Barros, a forte concorrência com os aços importados levará as siderúrgicas nacionais a fazer ajustes de preço para se manterem competitivas.

- Caso contrário, elas poderão perder vendas - diz ele.