Título: Novos caras pintadas vão à rua contra impeachment
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 17/08/2005, Brasília, p. D3
Manifestantes ocupam a Esplanada, gritam slogans contra a corrupção, mas não dizem os nomes dos que querem ver punidos
Duas faixas paralelas, uma amarela e outra verde, coloriram o rosto de cerca de 40 mil estudantes que tomaram ontem pela manhã a Esplanada dos Ministérios. Dessa vez, os cara pintadas não queriam derrubar nenhum chefe de estado, pelo contrário, gritavam em apoio ao presidente Luís Inácio Lula da Silva, empunhando faixas onde se lia Fica Lula. Os manifestantes não fizeram nenhum tipo de questionamento, apenas pediam, genéricamente, o fim da corrupção. Não houve menção ao mensalão ou ao caixa 2 envolvendo integrantes do Partido dos Trabalhadores, cuja estrela vermelha enfeitava grande parte das bandeiras carregadas pelos estudantes. As principais reivindicações foram as mesmas de antes da crise: mudanças na política econômica e fim do imperialismo norte-americano. Como em todo protesto alguém tem que ser malhado, o judas da vez foi o deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto, vítima do coro preferido pelos manifestantes: ''é ou não é, piada de salão, o Neto do ACM falando em corrupção''.
Para o presidente da União Brasileira de Estudantes Secundatistas (UBES), '' o Congresso Nacional não tem legitimidade para pedir o impeachment de Lula''.
- Ao contrário do que aconteceu em 1992, o cerne da corrupção está no Congresso e não no Palácio do Planalto. Queremos que todos os culpados sejam cassados e que, acima de tudo, seja feita uma reforma política para acabar com brechas que permitem a corrupção - afirma
Segundo Gustavo Bretta, presidente da União Nacional dos Estudante (UNE), o julgamento político de Lula não deve ser feito por parlamentares, mas sim pelo povo nas eleições do ano que vem.
- Foi o povo que colocou o Lula na Presidência e é nas urnas que devemos julgá-lo - diz.
Além da UBES e da UNE participaram da manifestação a Central Única dos Trabalhadores, o Sindicato dos Correios e outras entidades sindicais. Aproveitando o clima de apoio - raro desde que a crise envolvendo o PT começou - deputados do partido subiram ao trio elétrico-palanque.
- Essa manifestação é um recado claro de que os movimentos sociais brasileiros querem sim que sejam apuradas todas as denúncias, mas sem a usurpação do mandato do presidente Lula - afirmou o deputado distrital Chico Vigilante (PT).
Para o deputado distrital Jamil Murad (PCdoB-SP) disse que ''os estudantes defendem o presidente porque é ele quem pode fazer mudanças efetivas na política brasileira''.
- Os estudantes vieram às ruas mais uma vez protestar contra essa direita que sempre foi contra eles, bateu e matou estudantes durante a ditadura, fechou a UNE e agora querem defender a ética - acredita.
Além de engrossar o coro dos que pediam o fim da corrupção, estudantes, como a brasiliense Aline da Cunha, 16 anos, aproveitaram a manifestação para se divertir. Aline foi com os amigos do Centro de Ensino 10 de Ceilândia, dançou ao som do batuque tocado por um grupo de manifestantes e se refrescou com um banho no espelho d'água do Congresso.