Título: Tiros e depredação em represália
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/08/2005, Internacional, p. A9
NABLUS - Tropas israelenses e palestinos armados enfrentaram-se no principal posto de segurança do exército na cidade de Nablus. Na mesma região, colonos israelenses teriam depredado casas de palestinos. Não há informação de feridos em nenhum dos incidentes.
Extremistas palestinos abriram fogo contra os soldados no bloqueio de Huwwara e fugiram em seguida, segundo o relato de testemunhas. Os soldados reagiram e houve um breve tiroteio. Autoridades israelenses, no entanto, negam que os militares tenham feito disparos.
Pouco depois, cerca de 15 colonos judeus da Cisjordânia invadiram e depredaram duas casas de famílias palestinas, quebrando móveis e eletrodomésticos, também segundo testemunhas.
O grupo, formado por moradores do assentamento de Sanur, no Norte da Cisjordânia, atacou um posto de gasolina e uma casa palestina na região, segundo fontes da segurança palestina. Mais de 100 homens, todos armados, destruíram parte do posto na cidade de Jabaa. Os colonos atacaram e saquearam também a casa.
Asher Weisgan, o motorista israelense que baleou e matou quatro trabalhadores palestinos na quarta-feira disse ontem não se sentir culpado pelas mortes. Os mortos eram passageiros habituais da van de Weisgan.
- Não estou arrependido - comentou, antes de ser apresentado à Justiça. - E espero que alguém mate (o premier) Sharon também - afirmou o extremista, que disse ter agido com violência para tumultuar a operação de desocupação dos assentamentos.
O governo israelense leva a promessa do colono a sério. Tanto que a agenda pública de Sharon foi bastante reduzida e o premier, apesar da aversão a medidas de segurança, passou a usar colete à prova de balas.
O funeral das vítimas de Asher Weisgan foi marcado pela revolta. Mohammed Mansour, de 50 anos, foi enterrado perto do povoado onde vivia, Kafr Qallil.
- Não temos razão para festejar a evacuação dos assentamentos de Gaza - afirma Mahmoud al-Hal. - Queremos todas as colônias fora daqui, vivemos cercados delas.
O sentimento geral é de medo de que outros ataques possam acontecer na região.
- Temo que a qualquer momento mais um colono atire contra nós - acrescentou Fawziya Mansour, parente do morto.
Mohamed, por sinal, sempre procurou ficar distante da violência. Trabalhou por dez anos em um assentamento até ser morto. Seu patrão, um judeu, telefonou para a família para expressar suas condolências e lembrar do tempo em que todos podiam ser amigos.