Título: Delúbio Soares: ''Sou fiel seguidor do presidente Lula''
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 19/08/2005, País, p. A2

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares deixou bem claro no início da sessão em que prestou depoimento à CPI do Mensalão:

- Faz parte da minha integridade não delatar ninguém.

De fato, em todas as suas respostas, Delúbio não entregou nenhum nome e irritou parlamentares que investigam a compra de apoio político do governo. No entanto, revelou algumas novidades e se comprometeu a entregar, em oito dias, uma lista com a contabilização informal do destino dos recursos repassados por Marcos Valério - acusado de ser o operador do mensalão e caixa 2 de partidos.

Apesar de ter mantido os principais argumentos da linha de defesa apresentada em depoimentos anteriores, Delúbio acabou confirmando que o dinheiro que o PT emprestou das empresas de Valério foram utilizados na campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 2002, mesmo que indiretamente.

Questionado pelo deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) se os R$ 457 mil repassados, durante o segundo turno, para o então candidato derrotado Ciro Gomes tinham sido utilizados para pagar dívidas da campanha de Ciro, Delúbio acabou revelando que o dinheiro foi gasto para pagar programas de televisão e imagens feitas para Ciro pedir votos para Lula.

Afirmando ser ''fiel seguidor do presidente Lula'', Delúbio preferiu não comentar o pronunciamento do presidente na semana passada, quando Lula se disse traído por companheiros. O ex-tesoureiro disse apenas não se enquadrar entre os traidores.

- A opinião do presidente eu não discuto. Opinião de presidente se respeita. O que ele falou está falado.

O ex-tesoureiro do PT voltou a negar que dinheiro público tenha sido usado no esquema de caixa 2 do PT e reafirmou que o ex-ministro da Casa Civil e deputado federal José Dirceu (PT-SP) nada sabia das operações porque, como ministro, tinha deixado de participar das atividades partidárias. No entanto, afirmou que o ex-presidente da legenda José Genoino sabia que o PT tinha dívidas remanescentes das campanhas de 2002 e que elas não foram contabilizadas.

Delúbio disse que a direção do partido, entre eles Genoino, incumbiram-no de resolver isso e que ele não teve de esclarecer como tinha acabado com esse problema. Ele negou que o PT tenha pagado mesada a deputados em troca de apoio a projetos e matérias e interesses do governo. E afirmou que nunca participou de reunião que tenha tratado do mensalão.

Todas as tratativas entre o PT e os partidos aliados (PP, PL, PTB e PMDB) sobre repasse de dinheiro para pagamento de dívidas de campanha, disse Delúbio, foram feitas com presidentes e líderes partidários. Os contatos dentro do PT eram com dirigentes de diretórios regionais.

Delúbio negou que o PT tenha pago contas ou recebido dinheiro no exterior. E colocou sobre Marcos Valério a responsabilidade do pagamento das dívidas do PT com o publicitário Duda Mendonça por meio de uma empresa localizada em Bahamas.

As declarações de Valério de que teria aceitado emprestar dinheiro ao PT por receio de retaliações do governo federal foram rebatidas. Delúbio afirmou que Valério se interessava em intensificar o relacionamento com o PT e partidos da base aliada para aumentar os negócios de suas agências no marketing político. Ele negou que tenha intermediado ou dado em garantias benefícios do governo federal a Valério.

O ex-tesoureiro do PT chegou a dizer que se candidataria a deputado federal por Goiás em 2002, mas foi convencido a participar da campanha de Lula e admitiu que abortou seu projeto de, em 2006, também tentar se eleger deputado federal.

- Com esse cenário político, abandonei a idéia - disse. E sorriu.