Título: Pizzolato: Gushiken interferia na Previ
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 19/08/2005, País, p. A3

Dizendo-se ''usado'', o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato afirmou ontem à CPI dos Correios que não sabia que os pacotes que mandou buscar no Banco Rural para o PT, a pedido de Marcos Valério de Souza, continham dinheiro. Nos envelopes havia R$ 326 mil. Ele não convenceu os integrantes da CPI. Pizzolato voltou a insinuar que o então ministro Luiz Gushiken (Secom) interferia nas decisões de investimento da Previ, o fundo de pensão do BB. Parlamentares suspeitam que fundos de previdência sejam uma das origens dos recursos para o caixa dois do PT. Gushiken nega qualquer ingerência.

O ex-diretor apareceu na atual crise quando o auxiliar da Previ Luiz Eduardo da Silva surgiu na lista de sacadores das contas de Marcos Valério. Ele disse que entregou o dinheiro para Pizzolato. Segundo o ex-diretor do banco, ele recebeu um telefonema em janeiro de 2004 de uma funcionária da DNA, agência de Marcos Valério que tem contrato com o BB, pedindo que ele buscasse ''documentos'' no Rio, onde mora.

Pizzolato disse que não conhece a pessoa do partido que pegou os dois pacotes em sua casa. A versão de Pizzolato tem contradições com o depoimento do auxiliar à PF. O ex-diretor afirmou que não sabia que o endereço dado pela funcionária da DNA era do Banco Rural. Luiz Eduardo disse que Pizzolato pediu, ao telefone, que ele fosse à agência e deu o nome da pessoa que deveria procurar.

Ex-presidente do Conselho Deliberativo da Previ, Pizzolato afirmou que o presidente do fundo, Sérgio Rosa, era influenciado por Gushiken.

- Ele disse que estava sofrendo muita pressão política e não sabia se ia suportar. Ele foi muito lacônico - disse Pizzolato.

A declaração teria sido dada quando o então presidente do conselho cobrou explicações de Rosa sobre a opção da Previ de manter representantes na Brasil Telecom e não na Telemar. A decisão contrariava estudo feito por técnicos do fundo segundo o qual os ativos da Telemar valiam mais. Segundo Pizzolato, foi convocada uma reunião do conselho em Brasília com Rosa, mas o encontro teve de ser remarcado porque ele estava reunido com Gushiken.

- O presidente da Previ pediu para que aguardássemos porque estava com Gushiken e iria ao ministro Antonio Palocci - afirmou, acrescentando que eram comuns reuniões não-oficiais'' entre Gushiken e Rosa.

Apesar de ter integrado o comitê financeiro da campanha de Lula, Pizzolato disse que não arrecadava recursos. Ele organizaria reuniões com empresários.