Título: Ex-ministro do Exército critica governo
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/08/2005, País, p. A7

Severas críticas à condução que o governo Lula vem imprimindo a assuntos relacionados ao Exército Brasileiro foram feitas ontem durante o painel Olhares Sobre 45, promovido pelo Jornal do Brasil, no auditório do Teatro Pedro Calmon, no Quartel Geral de Brasília. A conferência, organizada para debater a evolução política, econômica, social e militar do país, acabou abordando temas polêmicos como a escassez de recursos destinados à corporação militar, a necessidade de o Brasil se afirmar no ranking internacional como grande produtor de urânio enriquecido, além de veladas ressalvas sobre a atuação do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar. - Faltam recursos para equipar nossas forças. Estratégias de atuação, funções e atribuições, isto tudo nós temos. Agora, o que não pode é escolher um ministro da Defesa por questões políticas. Isto é uma decisão importante para atender apenas interesses passageiros - afirmou o general Leônidas Pires Gonçalves, um dos três conferencistas.

Ex-ministro do Exército, o general Leônidas também defendeu a idéia de que a condução do Ministério da Defesa, se não realizada ''por quem entende'', deveria ser feita ''pelo menos com uma maior participação de militares''.

- Existe um pouco de modismo na escolha de um não-militar para o cargo. Mas aqui no Brasil sinto que existe um pouco de ''revanchismo'' por conta de 64. Isto é passado. Imaginar que amanhã o presidente me chame para ser ministro da Fazenda? Eu responderia: Não posso, porque não entendo disto - afirmou.

Mas adiante, voltou a fazer críticas:

- Em 94, quando era ministro, a dívida do Exército era de R$ 60 milhões. Este ano, já passa de R$ 1 trilhão. O Exército está muito mal, mas também estão mal a saúde, a educação (...) faltam projetos estratégicos - disse.

O enriquecimento de urânio, que perdeu incentivos nos últimos anos e é um programa ameaçado de extinção, também foi levado a debate pelo general. Outro conferencista, o embaixador Marcos Henrique Côrtes se mostrou favorável à análise de Leônidas Pires Gonçalves. Abordou a necessidade de o Brasil continuar a exploração e enriquecimento do urânio para entrar com força no mercado de combustível nuclear. Para Côrtes, a defesa de um programa nacional com esse objetivo vai aumentar a expressão militar do poder nacional, além de elevar o status do país nas relações internacionais.

- Não podemos nos render a este protocolo adicional do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear). Isto será criminoso para nosso país, porque a produção deste combustível poderá nos colocar na condição de sujeito e não mais de objeto nas negociações mundiais - avaliou.

O segundo painel promovido pelo JB ainda trouxe propostas de melhoria na atuação das Forças Armadas, como, por exemplo, a ampliação de suas atividades. Colunista do JB, Augusto Nunes sugeriu que as Forças Armadas estivessem também nas ruas de algumas cidades, que sofrem muito com a questão do narcotráfico.

- É preciso restabelecer a segurança interna do país. Cidades como Rio de Janeiro, Vitória e São Paulo precisam de uma intervenção do Exército. Por lá, a população tem problemas tão graves quanto aqueles que as Forças Armadas enfrentam nas fronteiras da Amazônia - disse.

Além da segurança nacional, a questão do urânio enriquecido e a atuação de Alencar à frente do Ministério da Defesa, a conferência ainda trouxe para pouco mais de 700 pessoas - entre militares e civis - comentários sobre alguns momentos da história brasileira, principalmente os relacionados ao período pós Segunda Guerra Mundial.

- São oportunidades como esta que ampliam os conhecimentos sobre a participação do Brasil em tempos de guerra. O povo que tem memória, tem orgulho - avaliou o vice-presidente do Jornal do Brasil, jornalista Paulo Marinho.

O simpósio também contou com a participação da presidente da Fundação Armando Álvares Penteado, Celita Procópio, que anunciou a participação da instituição no projeto do JB. Segundo ela, em outubro, a sede da fundação em São Paulo vai organizar uma exposição de documentos e fotos que hoje estão nos arquivos do jornal e do Exército.

- Nosso objetivo é expor todo o material relacionado à força expedicionária que representou o Brasil na Segunda Guerra Mundial: fotos, uniformes, matérias jornalísticas e documentos em geral - afirmou.