Título: Itamaraty volta atrás
Autor: Clara Cavour
Fonte: Jornal do Brasil, 19/08/2005, Internacional, p. A8

Cedendo à repercussão dos fatos revelados na capital britânica, o governo brasileiro mudou de atitude. Um dia depois de dizer que aguardaria o fim das investigações sobre a morte de Jean Charles, o Ministério das Relações Exteriores recuou e anunciou, ontem, ter decidido pelo envio, no dia 22, de uma equipe à capital britânica para acompanhar o inquérito. A enxurrada de informações falsas e a farsa armada pela polícia - endossada pelo governo - para encobrir os responsáveis pela morte de Jean Charles tornaram necessário o uso da prerrogativa aventada pelo ministro Celso Amorim anteriormente.

Após o encontro com o secretário de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Jack Straw, na semana seguinte ao assassinato, Amorim quebrou o protocolo. Na entrevista conjunta afirmou, sem consultar previamente o anfitrião, que o Brasil se reservava o direito de procurar o governo britânico ''em caso de dúvida ou da necessidade de mais informações''. Um constrangido Straw assentiu.

A missão vai se encontrar com membros da Comissão Independente para Reclamações da Polícia (IPCC) e com o vice-comissário da Scotland Yard, John Yates, além de outras autoridades britânicas.

''É expectativa do governo brasileiro obter amplos esclarecimentos, inclusive a respeito das notícias recentemente veiculadas pela imprensa'', informou o comunicado do Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

A revolta também é cada vez maior em Gonzaga (MG), onde vivem os parentes de Jean Charles. Seu primo, Alex Pereira, tem certeza de que a polícia londrina agiu com má-fé desde o início. Cobra incessantemente, junto com os advogados britânicos, a liberação das imagens do circuito interno de tevê da estação de Stockwell. As cenas desmontariam definitivamente a operação de encobrimento deflagrada assim que a polícia se deu conta do que fizera. Devido à insistência, recebeu um estranho convite.

- Na semana passada fui chamado para um encontro oficial com agentes de segurança. Quando falei que iria acompanhado da minha advogada, o policial que me telefonou respondeu que queria se reunir comigo e com as pessoas da família a sós. E disse que a conversa, então, tinha sido cancelada - revela, por telefone, ao JB.