Título: Rompida a última blindagem do governo
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 20/08/2005, País, p. A7

A cientista política Lúcia Hippólito acredita que as acusações contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, são o primeiro sinal do fim da blindagem sobre a área de maior sucesso do governo:

- Havia uma intenção de manter Palocci afastado de tudo, mas não deu certo. Era ilusão achar que nada ia aparecer contra o Palocci. Por que todo o 'Estado Maior' da campanha de Lula seria afetado e Palocci passaria incólume? - afirmou.

A cientista política acredita ser importante que as investigações sejam aprofundadas, mas lembra que apesar da possibilidade de as denúncias serem falsas, há verossimilhança nas acusações. Segundo ela, a nova denúncia é mais um sinal da crise interna do PT:

- A oposição não precisa fazer nada, todas as denúncias surgiram das brigas internas do PT. Estamos vendo o Dirceu se entrincheirar no partido e levar junto muitas pessoas. Não é descabido perguntar até que ponto isso não é mais um capítulo da briga do Palocci com o Dirceu - indagou.

A acirrada briga interna leva Lúcia Hippólito a acreditar que a origem da denúncia possa ter surgido até na esquerda do PT, que sempre foi crítica ao modelo econômico implantado pelo ministro na Fazenda.

- Seria leviano afirmar isso categoricamente, mas não podemos esquecer que a esquerda do PT fez uma nota atacando a política econômica. A esquerda sempre quis isso que está acontecendo - lembrou.

Apesar da nova denúncia atingindo o eixo que ainda estava preservado do governo, Lúcia Hippólito não acredita que isso possa acelerar um processo de impeachment.

- O impeachment tem a ver com crimes de responsabilidade do presidente. Além disso, o impeachment é um processo político, não apenas jurídico. É preciso um apoio popular e parlamentar que não existe.

Mesmo que ele seja aberto, a cientista não acredita numa queda rápida de Lula.

- O caso do Collor está iludindo muita gente, que acredita que o processo significa o afastamento do presidente. Esse é um processo lento, que pode ser derrotado no Congresso.