Título: Líderes da resistência são indiciados
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 20/08/2005, Internacional, p. A9
Adolescentes manifestantes em Kfar Darom passaram a noite em penitenciária. Colônia de Gadid foi esvaziada
BEER SHEVA, Israel - Os líderes dos manifestantes que se entrincheiraram no teto da sinagoga do assentamento de Kfar Darom foram apresentados à Justiça ontem de manhã. Eles vão responder por crime de distúrbio violento após comandarem, na quinta-feira, a resistência à operação de retirada israelense da Faixa de Gaza. No mais grave incidente, soldados foram queimados com ácido.
Pelo menos quatro ônibus com radicais - não necessariamente colonos, mas judeus contrários ao enfraquecimento da política sionista - chegaram à penitenciária de Beer Sheva. Com idades entre 11 e 21 anos, os detidos passaram a noite na ala Dekel, reservada para aqueles que criassem problema ao Plano de Desligamento.
Pais de todas as partes de Israel foram a Beer Sheva, procurar por seus filhos. E ouviram do superintendente-chefe da prisão, Yossi Cohen, que deviam voltar para casa, pois apenas os detidos que se identificassem teriam permissão para fazer uma chamada telefônica.
- Os menores de 14 anos que não tiverem antecedentes criminais e que não tiverem atacado os policiais serão soltos pela manhã - prometeu Cohen. - Mas quem não se identificar ficará sob custódia.
Mesmo com a ameaça, vários jovens se recusaram a revelar seu nome. Disseram apenas que são ''judeus da terra de Israel''. Para estes, foi montada uma audiência especial, na própria detenção, com juízes de infância e adolescência.
Alguns pais não saíram da penitenciária, pois tinham certeza de que seus filhos estavam entre os que montaram barricada. Petah Tikva contou que o filho enviou-lhe uma mensagem por celular, perguntando qual seria o melhor lugar para ficar: dentro ou no teto da sinagoga.
- Eu estava dormindo e não respondi. Ele acabou indo para o telhado e não conseguiu descer. Os líderes disseram aos mais jovens que não usariam de violência, mas era mentira - acusa Tikva, segundo quem, os adolescentes ''sofreram lavagem cerebral''.
Mais branda, a cena de soldados israelenses invadindo sinagogas nos assentamentos de Gaza se repetiu ontem, em Gadid. Os manifestantes concordaram em deixar o templo pacificamente, mas exigiram ser carregados, um a um, para demonstrar repúdio à política do premier Ariel Sharon.
Ao anoitecer, toda a operação foi suspensa, em respeito ao feriado semanal judaico do shabbath. Números oficiais apontam que 85% dos colonos já deixaram Gush Katif - o bloco de colônias sionistas em Gaza.
- A missão desta semana foi um sucesso, embora muito dolorosa - reconheceu o porta-voz da Defesa, Yael Hartman.
O Desligamento também foi comemorado do lado palestino.
- A saída dos colonos é resultado do sacrifício, da paciência e da sabedoria do nosso povo - discursou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.