Título: Estatística da Igreja
Autor: D. Eugenio Sales
Fonte: Jornal do Brasil, 20/08/2005, Outras Opiniões, p. A11
Recentemente, veio a lume o ''Annuarium Statisticum Ecclesiae - 2003'', preparado pelo Departamento Central de Estatísticas da Santa Sé. O L'Osservatore Romano, em português, de 14 de maio de 2005, sob o título ''Uma Igreja em crescimento'', traz uma série de dados relativos aos últimos 25 anos de vida eclesial. Esse período corresponde quase integralmente ao pontificado de João Paulo II. Convencido da importância de um conhecimento maior da vida da Igreja, em particular por parte dos fiéis, trago informes oficiais desta matéria, globalmente e em cada continente. A edição diária de L'Osservatore Romano, datada de 9-10 de maio último, ilustra e divulga algo do Anuário Pontifício.
Uma visão global é otimista. O número de católicos de 1978 a 2003 que era de quase 757 milhões, chegou a 1 bilhão e 85 milhões, um crescimento, portanto, de 329 milhões de fiéis no período e uma porcentagem de 43,5%. Comparando estes dados com o aumento da população mundial nesse período de 25 anos, de 4 bilhões e 2 milhões para 6 bilhões de habitantes, constata-se ligeira diminuição de católicos no mundo, passando de quase 18% da população para cifra superior a 17%. Depois dessa perspectiva universal, vejamos, a seguir, a situação de cada continente.
Na Europa, a população permaneceu praticamente invariável. O mesmo se diga na proporção de fiéis.
Na África, os católicos quase triplicaram. Em 1978, eram cerca de 55 milhões e no fim, em 2003, quase 144 milhões. Representavam, assim, 12,4% da população em 1978 e quase 17%, 25 anos mais tarde.
Na América, os católicos constituíam 62% da população do continente e na Ásia não superavam os 3%.
Na Oceania, a situação é estagnada. O L'Osservatore Romano reconhece que, nestes 25 anos, a porcentagem dos católicos africanos em relação aos fiéis do mundo passou de 7% para 13%. E os católicos europeus de 35% para menos de 26%. Da América pode-se dizer que nela vive quase a metade dos católicos de toda a terra.
Segundo as estatísticas de ''As religiões no mundo'' do Instituto Geográfico De Agostini, válidas para o ano 2000, cerca de 36,6% dos habitantes do planeta são cristãos, dos quais 17,5% católicos, 5,6% protestantes, 3,6% ortodoxos, 1,3% anglicanos, 6,8% pertencem a outras confissões cristãs e 1,8% não aderem a nenhuma igreja. Segundo a mesma fonte, os muçulmanos eram 19,6%.
Entre 1978 e 2003 o número de bispos aumentou quase 28%, passando de 3714 para 4742. O incremento é mais acentuado na África e na Oceania.
Quanto aos sacerdotes, o ''Anuário Estatístico da Igreja - 2003'' mostra um aumento do clero diocesano e diminuição dos religiosos. O número total de padres diminuiu, passando de 421 mil para 405 mil. Segundo o informe de L'Osservatore Romano, de 9-10 de maio último, constata-se que, a partir de 1988, vem ocorrendo uma ligeira recuperação. O maior aumento tem sido na África, com 79% e na Ásia, com 69%. Na América tem sido estacionário, na Oceania houve uma diminuição de 17% e na Europa, 19%.
No qüinqüênio, o número de diáconos permanentes, tanto diocesanos como pertencentes às Ordens e Congregações religiosas, cresceu substancialmente. Em 1978, eram cerca de 5.500 e no ano de 2003 mais de 31.000.
As religiosas, que em 1978 eram no mundo pouco menos de 1 milhão, são em 2003, 770 mil. Esse declínio é mais acentuado na Europa, na América e na Oceania.
As cifras são áridas mas, examinando-as no decorrer desses qüinqüênios de 1978 a 2003, em perspectiva universal e por continente, fornecem matéria de reflexão que nos pode levar a conclusões importantes para uma retomada da evangelização, neste novo milênio. Há evidentes problemas, mas para a Igreja, vista em uma visão global, estes dados justificam o título que L'Osservatore Romano deu a esse assunto: ''Uma Igreja em crescimento nos últimos vinte e cinco anos''.
Comumente o batizado, membro da Igreja, não vive a dimensão global de sua Fé. No entanto, cada um dos fiéis tem responsabilidades, em graus diversos, pela Igreja em todo o universo e não somente em sua paróquia, seus movimentos e sua diocese. Isso decorre da própria estrutura criada por Jesus Cristo e reafirmada no decorrer dos séculos. O Concílio Vaticano II, no decreto ''Ad Gentes'' (nº 2), é peremptório: ''A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem sua origem segundo o desígnio de Deus Pai e do Espírito Santo. Em duas vertentes tem deveres a cumprir. O primeiro é com os que não receberam a mensagem do Evangelho e o segundo é com a própria Igreja, viva em nossa atuação, nos mais diversos horizontes''. Para isso, cabe ao católico não só tomar conhecimento, mas também, dentro de suas possibilidades, agir, não sendo mero espectador do que ocorre no mundo e no Brasil. A seguir, tomar uma posição motivada e orientada pela fé cristã.
A renovação da atividade pastoral está vinculada, sobretudo, às vocações sacerdotais. Neste ponto, é mister um grande esforço em favor dos seminários e da constante atualização dos sacerdotes, sempre conforme a orientação da Santa Sé. O esforço por preservar e fomentar a vida, a atuação da Igreja e a santificação de cada membro, leigo ou eclesiástico, é um dever de cada um de nós, guiado pelo Espírito Santo, em toda parte do mundo.