Título: Denúncia testa blindagem
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 20/08/2005, Economia & Negócios, p. A17

Dólar e risco Brasil disparam com acusações envolvendo ministro Palocci

A até então blindada economia brasileira sofreu ontem os primeiros abalos da crise instalada em Brasília desde a revelação do pagamento de mensalão a parlamentares. As denúncias do advogado Rogério Buratti feitas ao Ministério Público envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em escândalo de corrupção em Ribeirão Preto causaram forte reação no mercado. O dólar comercial fechou com valorização de 2,94%, vendido a R$ 2,45, enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 0,95%, para 26.643 pontos, com volume de R$ 1,853 bilhão.

No exterior, o risco país medido pelo banco JP Morgan teve alta de 3,46% e encerrou a sexta-feira aos 419 pontos.

Na abertura dos negócios, o dólar comercial chegou a operar em baixa, mas disparou por volta das 11h, logo após Buratti - que foi secretário de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto - afirmar que o ministro recebia, na época, R$ 50 mil mensais de empresa de coleta de lixo.

- O lançamento de uma bomba como essa abriu a porteira. A Bovespa chegou a cair 2% em 15 minutos - diz Marcel Pereira, economista-chefe da RC Consultores.

O dólar comercial também registrou alta imediata em função do depoimento de Buratti ao MP e atingiu o pico de R$ 2,483, alta de 4,3%.

A partir de então, a pressão de alta diminuiu gradativamente até os valores registrados no fechamento.

A Bovespa foi beneficiada indiretamente pela alta do dólar, que impulsionou as ações ordinárias de empresas exportadoras, como Petrobras (+1,47%), Embraer (+2,16%) e Vale do Rio Doce (+2,12%). No câmbio, a pressão foi aliviada pela nota divulgada pelo Ministério da Fazenda negando as acusações. Os mercados externos também ajudaram a aliviar a pressão no Brasil. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, subiu 0,04%, enquanto o Nasdaq, da bolsa eletrônica, recuou apenas 0,02%.

- O mercado acabou percebendo que a questão poderia não ser tão grave quanto parecia - opina Pereira.

Para Mário Battistel, diretor de câmbio da corretora Novação, o ministro passa credibilidade aos investidores.

- O mercado tem a sensação de que as explicações de Palocci não vão esbarrar no populismo, como fez o Lula - acredita Battistel.

O alerta para uma possível crise, no entanto, está aceso. Apesar de acreditar que ainda faltam provas consistentes contra o ministro, Octávio Vaz, sócio da Questus Asset Management, ressalta que a eventual comprovação do envolvimento de Palocci em irregularidades significaria a queda da figura mais forte do governo petista.

- Os investidores enxergam o Palocci como o responsável por tirar o PT da linha de calote na dívida - afirma.

Neste caso, os analistas prevêem um forte agravamento no front econômico.

- Neste caso, não se pode vislumbrar um limite para a crise. Se as denúncias forem comprovadas, o dólar pode facilmente superar os R$ 2,60. Caso contrário, ele pode recuar tudo o que subiu hoje (ontem) - diz Pereira.