Título: CPI: deputados defendem paciência na apuração
Autor: Sérgio Prado e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 21/08/2005, País, p. A4

Alguns parlamentares da CPI dos Correios lutavam, ao longo da semana, para mostrar que o fato de as investigações chegarem ou não ao presidente Lula, com a conseqüência inevitável de um impeachment, não deveria mover o ritmo das apurações. Para eles, há um esquema de corrupção montado na máquina federal de proporções monumentais. E isto sim, deve preocupar os integrantes da CPI.

- Reconheço que, para alguns, só existe razão se chegarmos ao Lula. Mas isso não deve ser objetivo, deve ser conseqüência - defendeu a deputada Denise Frossard (PPS-RJ).

Para ela, a explicação é pragmática: a corrupção não apareceu com o Lula e não será combatida simplesmente com seu afastamento. Frossard acredita que, se isso não for bem colocado, corre-se o risco de não se esclarecer tudo.

- São 19.200 cargos de confiança na administração federal, é muita coisa. O Brasil não precisa de uma reforma política, precisa de uma reforma administrativa - acrescentou.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) compara os trabalhos da CPI a três carros de corrida: no primeiro, estão os fatos descobertos pela imprensa; em seguida, os depoimentos de envolvidos e testemunhas; por fim, a análise documental.

- Nossa missão e dificuldade é aproximar estes três carrinhos, colocando-os na mesma velocidade - avaliou.

Fruet acredita, no entanto, que tudo que aconteceu até o momento já mostra que a CPI valeu a pena. Mas considera perigosa a expectativa diária por fatos novos e bombásticos.

- Daqui a um ano, o que vai ser lembrado é a qualidade da investigação, não a soberba de alguns ou a velocidade das apurações - destacou Fruet.

O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) acredita que é o momento de a CPI fechar os ciclos e iniciar a fase final de apurações, retomando o foco para dois pontos em especial: a corrupção nos Correios e a origem dos recursos que irrigaram as contas de Marcos Valério Fernandes de Souza.

Outro integrante da CPI defende ser pouco provável que estes recursos sejam, de fato, oriundos apenas dos empréstimos feitos pelo dono da SMPB no Banco do Brasil e no BMG. É forte a suspeita de que parte dos recursos encaminhados por Valério ao exterior - que alimentaram, entre outras contas, a do publicitário Duda Mendonça - possam vir de empresas regulares, que contribuíram às campanhas do PT.

Esta investigação pode ligar as CPIs ao escândalo denunciado por Rogério Buratti, ex-secretário do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, quando este era prefeito de Ribeirão Preto.

Cotado para ocupar a sub-relatoria de Fundos de Pensão na CPI dos Correios, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), lembra que esta é uma linha de investigação que está no início e pode trazer muita dor de cabeça ao governo. O pefelista defende que a CPI não perca o foco: o desmonte da corrupção nos órgãos públicos, a descoberta das empresas privadas que se beneficiaram do tráfico de influência e a punição dos envolvidos.