Título: Saída de Palocci do governo já é vista com tranqüilidade
Autor: Sérgio Prado e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 21/08/2005, País, p. A4
Pela primeira vez desde a eclosão da crise política, a saída de Antonio Palocci da Esplanada é vista como uma hipótese concreta. Há uma espécie de consenso entre analistas, empresários e políticos de que a substituição do ministro se tornará inevitável se ele não conseguir explicar de forma consistente as graves denúncias feitas pelo advogado Rogério Buratti.
Ex-assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, Buratti denunciou na sexta-feira ao Ministério Público que o ex-prefeito recebia R$ 50 mil por mês da empresa Leão Leão, que tinha contratos com a prefeitura e repassava os recursos ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que os utilizaria para financiar campanhas do partido.
Até agora, a preservação do homem forte da economia era unânime, pois era visto como o principal pilar para a superação do delicado momento que vive o Palácio do Planalto. Inclusive vinha daí moderação demonstrada pelos principais partidos de oposição no Congresso. Mas diante dos novos fatos, a tensão tomou conta dos chamados mercados, o que muda muito o cenário dominante até aqui.
- Se os argumentos do ministro da Fazenda não forem suficientemente convincentes, o governo deverá optar por uma substituição mais rápida para evitar um período de nervosismo nos mercados financeiros, que poderia anular um de seus maiores trunfos para atravessar a crise política - diz análise feita pela LCA Consultores, uma das consultorias mais respeitáveis do país, que faz estudos para grandes grupos empresariais.
Nada mais claro o tom dos operadores da Planície em relação ao Planalto. Eles não querem nem pensar em ver o comandante da economia sangrar por longo tempo. Isso, por exemplo, ocorreu com vários ministros no governo de Luiz Inácio Lula da Silva e em especial com o braço político do governo, que foi o deputado José Dirceu, na Casa Civil.
Num quadro hipotético que levasse à queda de Palocci, o atual secretário executivo co Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, seria um dos nomes capazes de dar continuidade na condução da política macroeconômica. Ele também é tido como boa opção para conduzir o Banco Central, se Henrique Meirelles, decidir ser candidato a algum cargo eletivo no ano que vem.
Mesmo tendo perfil técnico, Portugal poderia enfrentar resistências nas bancadas do PT na Câmara e no Senado, pois ele é considerado muito tucano, inclusive ocupou cargo de secretário do Tesouro nos governos Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco. O questionamento à equipe econômica cresce a cada dia entre os petistas. Com o governo mais fraco, estas vozes teriam ainda mais contundência com a ida de um tucano para a Fazenda.
Este problema extra poderia levar Lula a optar por uma saída política. Neste caso, as fichas recaem sobre Paulo Bernardo, atual titular Ministério do Planejamento. Deputado pelo PT do Paraná, o ministro tem bom trânsito no Parlamento e desde o início do mandato de Lula foi um dos maiores defensores do atual modelo de condução da economia.
Na sexta-feira, o Palácio do Planalto jogou várias pontes para a oposição a fim manter a economia blindada a despeito das denúncias contra Palocci, consideradas um fato novo e gravíssimo. Foram escalados para a operação, ministros e líderes do PT e do governo no Congresso.
Segundo um auxiliar do presidente Lula, até o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal fez o papel de bombeiro. Teria telefonado para os líderes dos dois partidos no Senado, José Agripino Maia (PFL-RN) e Arthur Virgílio (PSDB-AM). O teor das conversas foi o pedido de tranqüilidade em relação às denúncias.
O resultado, ao menos por hora, é considerado pelo núcleo político do governo como satisfatório. No fim de semana, os partidos de oposição reagiram com cautela. Tanto o PSDB quanto o PFL exigiram que o ministro se pronunciasse, mas evitaram críticas mais pesadas.
As conversas prosseguirão durante os próximos dias, pois o núcleo mais próximo ao presidente considera ''devastador'' um eventual descarrilamento da política econômica. Seria o ápice da crise, na avaliação de um ministro com cadeira no Palácio do Planalto.